segunda-feira, 14 de abril de 2008

Por que razão estou profundamente céptico em relação ao acordo entre o ME e os Sindicatos?


Mário Nogueira refere que o "noticiado acordo" não o foi na realidade. Existiu sim um entendimento para salvar o 3º período, desbloqueando a situação de conflito. Creio, no entanto, que acabou por salvar, também, a face da equipa ministerial numa altura em que estes governantes estavam sob pressão intensa. Desejaria vivamente que assim não fosse, mas temo que assim tenha sido. Todos pressentimos que, com este Ministério, o essencial da luta dos professores morrerá na praia.

Este acordo, quero dizer, entendimento, apesar de reconhecer que traz consigo pequenas vitórias, que é sempre de realçar, não incide em nada de substancial da nossa luta. A negociação sobre essas matérias ficou adiada para Junho e Julho, uma data conveniente para o Ministério (inexistência de aulas, aproximação das férias dos professores, desmobilização…) para, penso eu, nada alterar de substancial. A confirmar-se o fracasso dessas negociações e conseguindo o ministério, como pretende, implementar efectivamente o seu modelo de avaliação em Setembro, então a derrota está perto. Devo recordar que esta avaliação que nos querem impor põe em acção um estatuto que é indigno da profissão.

A verdade é que os Sindicatos ficaram reféns deste acordo, perdão, entendimento. Depois disto, e com a previsível subida de popularidade da ministra, quer na opinião pública, quer na opinião publicada, pelo seu comportamento (inédito!) de estadista, ninguém compreenderá o regresso à luta dos professores. Esse é outro dos problemas que se põe: o esvaziamento da luta dos professores. O que resta agora? Com que motivação voltaremos à rua? Como vamos explicar esse regresso, depois de todo o trabalho de sensibilização da opinião pública? Quais as consequências da radicalização da luta esperadas com o dia D? Eu, como milhares de professores, acreditámos que, perante o estado de coisas, apenas uma posição de força que não deixasse dúvidas sobre a postura dos professores, inviabilizaria este ataque à classe docente, à escola pública e à educação em Portugal.

Não podemos esquecer (nunca!) que a política resultadista deste ministério visa recolher louros políticos à custa da mentira estatística e do trabalho sério de milhares de professores e alunos, salvaguardados na retórica mentirosa do mérito e da excelência; não podemos esquecer (nunca!) as medidas controleiras de encurralamento da consciência profissional, na lógica de obediência a uma cadeia de comando que, quer o estatuto, quer o decreto regulamentar 2/2008, quer o novo diploma de gestão escolar, impõem, sem respeito pela autonomia intelectual e profissional da classe docente - elemento fundamental de uma educação de qualidade; não podemos esquecer (nunca!) a degradação do nosso estatuto remuneratório e da indignidade a que, diploma após diploma, nos têm querido sujeitar, com especial relevo para essa burla economicista que é a divisão da carreira em duas categorias. Estes são alguns dos aspectos essenciais.

É verdade que algum pessimismo me acometeu – espero que momentaneamente. E porque assim espero, cito alguns versos de Brecht, excelentes para manter o espírito vivo e o ânimo aceso:

Há homens que lutam um dia, e são bons…
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são os imprescindíveis
Devemos manter viva a ideia de que há mais, muito mais, na escola para além do ministério e dos sindicatos, por isso continuarei, juntamente com meus colegas, a preparar o dia D pela continuação da luta.

José Rui Rebelo, Esc. Sec. de Barcelos

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