quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Estava no programa do governo?


Se o que move os professores fosse questões de ordem laboral, a maioria já tinha baixado os braços. A questão dos professores é bem mais grave e complexa. A questão é de ordem política. A questão principal dos cidadãos/professores e que os faz mover, prende-se com a defesa da Escola Pública Democrática, a Escola ao serviço da Comunidade, a Escola vanguarda do conhecimento e do saber, a Escola alicerçada nos Valores e Direitos Universais do Homem.

Esta Escola é, como os professores sabem e sentem, incompatível com o modelo de Maria de Lurdes Rodrigues: a Escola empresa, servida pelos novos estatutos de professor e aluno, pelo Director, pela Avaliação formatada e repleta de arbitrariedades, pela Contratação...

MLR desestruturou em 3 anos, a Escola que em 30, fomos construindo: todas as leis, decretos-leis, despachos, regulamentos....em que a Escola que estava em construção assentava, foram revogados, operando um "golpe de estado" na Educação, aliás como em demais sectores da sociedade portuguesa, legitimado pela "maioria democrática" conseguida nas urnas. Legitimidade?! Pergunto:

Estava no programa do governo fracturar a Carreira docente?

Estava no programa do governo encerrar 3000 escolas?

Estava no programa do governo transferir essas crianças para a periferia, libertando espaços nobres nos centros das populações que darão luxuosos condomínios e agências bancárias?

Estava no programa do governo apresentar uma prova a um aluno que falta às aulas, perguntando-lhe o que não lhe foi ensinado?

Estava no programa do governo acabar com a formação dos professores?

Estava no programa do governo aumentar o horário de trabalho de um professor, vendo-se este, ao fim de 30 anos de serviço, com 25 horas lectivas, acrescidas de dezenas de outras provocadas pelos desvarios governativos?

Estava no programa do governo aumentar o desemprego entre os jovens professores, por acréscimo do trabalho dos colegas mais velhos?

Estava no programa do governo a contratação directa, fazendo com que, no futuro próximo, um professor possa andar toda a sua vida com contrato a prazo?

Estava no programa do governo que a ocupação dos tempos livres das crianças fosse assegurada pelos professores?

Estava no programa do governo que avaliação dos professores fosse um modelo formatado e um processo sinuoso e subjectivo ao serviço das arbitrariedades do Poder?

Estava no programa do governo acabar com a democracia na Comunidade Educativa em que os membros integrantes das diversas estruturas surgiam por eleição e passem, agora, a surgir por nomeação de Director nomeado?

Estava no programa do governo reduzir em centenas de euros os vencimentos mensais dos professores?

Estava no programa do governo fomentar uma campanha de calúnia e difamação dos professores?

Estava no programa do governo mentir sobre a avaliação que os professores desenvolviam há cerca de 20 anos, baseada na análise crítica e formação?

Estava no programa do governo desprezar os professores, empurrando-os para reformas prematuras, perdendo a Escola o seu convívio e saberes?

A resposta a estas e tantas outras perguntas que podemos formular, é a mesma: não. Então que significa "legitimidade democrática"?

Alguém dizia, há umas semanas atrás, que ao ministro Sócrates daria jeito suspender, por 6 meses, a democracia, acrescentando que se tratava de uma ironia. A figura de estilo não foi, desgraçadamente, para o povo português, uma ironia, mas sim, um eufemismo, uma vez que a democracia está suspensa há 3 anos.

Anabela Almeida

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