quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Um simplex trapalhão


"Todos os professores que estiverem em condições de pedir a reforma nos próximos três anos serão dispensados da avaliação de desempenho, se assim pretenderem, anunciou hoje a ministra da Educação, no final do Conselho de Ministros.

Com esta medida, o universo de professores obrigatoriamente avaliados poderá ser significativamente reduzido, tendo em conta que mais de 5.100 docentes se reformaram só em 2008, a uma média de 14 por dia.

Além destes docentes, também os professores contratados pelas escolas para leccionar áreas profissionais, tecnológicas e artísticas, que não estejam integrados em qualquer grupo de recrutamento, poderão igualmente pedir a dispensa da avaliação.

Nesta situação estão sobretudo os técnicos especializados que foram contratados pelos estabelecimentos de ensino para leccionar em cursos profissionais, como hotelaria, culinária ou mecânica, por exemplo, não pertencendo aos quadros"

Vê o resto da notícia no Expresso Online


Reproduzimos a pertinente opinião de Maria Mar, que comentou a notíca no site do Expresso:

Repararam no facto de haver professores que NÃO estão perto da reforma que NÃO vão ser avaliados? Se eu estiver a ensinar português a um curso profissional serei avaliada mas se tiver sido contratada para ensinar a cozinhar no mesmo curso e aos mesmos alunos já não sou avaliada? Porquê? Porque se ensino cozinha é impossível ensinar mal??? Ensinar a parte profissional de um curso é tão fácil que não vale a pena avaliar o professor?? Mas esta avaliação não é para melhorar o ensino??? Os professores dizem que é para evitar que os professores subam na carreira, mas o Ministério diz que é para reconhecer os bons e os maus professores... Não há bons nem maus professores nos contratados que dão aulas de Electricidade ou de Cozinha ou de Mecância??? Parece-me estranho... Só há professores do meio da tabela?

Repare-se também que vai haver casos (basta ir a escolas que têm ensino profissional há muito tempo para que isto aconteça...) em que pessoas a ensinar a mesma coisa (electricidade, por exemplo) a um curso profissional têm situações diferentes: uma é avaliada e outra não, porque uma faz parte do quadro e essa "tem" de ser avaliada (porque a lei é para se cumprir e é impensável não a cumprir...) e, ao lado, outro professor - que ensina a mesma coisa - porque não é efectivo (e, para não ser efectivo pode ser, simplesmente, porque é mais novo ou tem menos anos de serviço...) já não tem de ser avaliado... Isto é para trazer a calma para as escolas? Neste caso, o professor mais novo (ou mais inexperiente) não é avaliado e o mais velho (simplesmente porque faz parte do quadro - e até pode ter mais 20 anos de experiência do que o outro...) já tem de ser avaliado... Estranho...

Repare-se ainda que "Todos os professores que estiverem em condições de pedir a reforma nos próximos três anos serão dispensados da avaliação". Estar em condições de pedir a reforma não quer dizer que o façam... Se um professor estiver em condições de pedir a reforma mas não a pedir pode continuar a dar aulas e não ser avaliado?? E isso não tem importância?? Mas esta avaliação não é para distinguir quais são os bons professores ? Ou não há bons professores entre os que se podem reformar??? Parece-me estranho, mas o Ministério, Iluminado, lá saberá o que acha dos professores perto da reforma...

O concurso dos titulares também foi marcado pelos acasos: há bons profissionais como titulares (por acaso) e há maus professores como titulares (por acaso!). Também há professores assim-assim. Como foi "por acaso" há de tudo entre os titulares. Se tivesse sido pelo mérito que os titulares tivessem sido escolhidos, não haveria tantos problemas com a questão da avaliação. O problema é que os professores viram que não foi o mérito que foi premiado. Foi ao acaso! Na avaliação, neste momento, alguns de nós têm de ser avaliados (por acaso) e outros não (por acaso)

Percebe-se que o objectivo da Ministra é salvar a face mas nós, professores, gostaríamos de ter uma avaliação séria, coisa em que esta Ministra não parece interessada.... É que, honestamente, eu sou professora e até acredito no meu trabalho e não queria ter notas "por acaso"...

Maria Mar

1 comentário:

Elisabete disse...

Eu só sei é que a ministra, com estas medidas, está a insultar os Professores. Pensa que cada um quer é resolver a sua vidinha e que são capazes de abandonar os outros quando a resolvem. E mais, de os transformar em seus cães-de-fila.
Primeiro, a luta dos Professores não é só por causa da avaliação. É, também, pela qualidade da Escola Pública, pelo fim deste tipo de pedagogia (?)catastrófica;
Segundo, os Professores só podem responder a isto de forma ética, mostrando à ministra que não estão à venda e que, por mais rebuçados que ela tente atirar-lhes, não se deixarão seduzir e continuarão unidos e solidários até que o MInistério compreenda as razões da sua luta.
Colegas, não vale ceder nem desistir.
A classe docente tem de mostrar, ao País, que é também uma classe "decente", que sabe o que quer e que não cede a pressões de governantes prepotentes e incompetentes.