quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Sócrates quer esmagar-nos. Porquê?


Dizia José Gil, na VISÃO de 2 de Outubro, que o governo utiliza contra a nossa luta “ técnicas terríveis de domesticação, de castração e de esmagamento”. Escrito mais de um mês antes da manifestação de 8 de Novembro (que reabriu tudo!), o reputado filósofo referia-se ao contraste entre o grito que a marcha de 8 de Março representara e a estratégia governamental de “fazer por ignorar”. E notava: “Ausentando-se da contenda, tornando-se ausente, o poder torna a realidade ausente e pendura o adversário num limbo irreal”.

António Barreto, no PÚBLICO, embora recusando, naturalmente, classificar Sócrates como fascista, alerta para os perigos que o estilo e a estratégia autoritária deste governo representam para a democracia.

E é tempo de nos perguntarmos: porquê tanta violência, esta “guerra” que nos declararam, este atentado sem precedentes a uma classe profissional que, por via da fractura da carreira e desta avaliação, se propõe roubar quase metade do salário da grande maioria dos profissionais, quando o plano estivesse concretizado? Se atreve a perseguir os professores e professoras até correr com eles, tratando-os como “estagiários” e “à experiência” ,ameaçados de despedimento a cada dois anos, até aos 65 anos de idade e quarenta de trabalho?

O secretário Pedreira fez declarações de uma extrema gravidade ao EXPRESSO de sábado passado. Reconheceu que o famigerado modelo de avaliação se tinha inspirado no Chile, designadamente na “apresentação de portefólios, da análise pedagógica e da relação com a comunidade”. Mas o secretário Pedreira foi mais explícito. Ao elogiar o sistema de ensino que vigora no Chile, deixou cair a “máscara da Finlândia”, com que tentaram enganar a opinião pública. Por detrás da ofensiva contra os professores e professoras está afinal… o Chile! Depois de afiançar que o modelo de avaliação chileno, aprovado em 2003, não obteve grande resistência dos professores (?!), concluiu: “ O Chile tem feito grandes progressos a nível da educação e tem sido elogiado pela OCDE”.

Pergunta-se: e, de facto, não foi necessário “esmagar” o povo chileno, através da violenta ditadura militar de Pinochet, assessorada pelos militares e ideólogos neo-liberais dos Estados Unidos?

A privatização em grande escala das escolas do Chile, bem como dos hospitais e centros de saúde, iniciada por Pinochet, prolonga-se pelos dias de hoje, nesse país ainda refém da ditadura. Começou-se por “municipalizar” as escolas e hoje, quase metade, foram privatizadas. Só não mudam para as privadas os pobres que não conseguem!

O “laboratório” das políticas neoliberais de privatização do ensino, saúde e pensões de reforma, o Chile de Pinochet, é-nos trazido à memória pelo secretário de estado. O medo está a ser instigado agora nas escolas portuguesas por este governo e ministério da educação.

Mas para nos derrotar neste confronto, que abriria caminho à destruição da escola pública e ao violento sistema de privatização imposto no Chile, o governo teria , antes, que nos “esmagar”.

A colecção de máscaras que a ministra, secretários e primeiro-ministro usam, pretendem talvez e tão-só esconder algo de mais grave e profundo, que começa a revelar-se. No momento em que os dogmas neo-liberais e a estratégia neo-conservadora estão a colapsar, inclusive na capital do império, este núcleo neo-liberal que se empolgou com os métodos de “choque e pavor” que têm estado na moda, está encurralado nas suas contradições. Cumpre aos professores e professoras não os deixar de lá sair.

Jaime Pinho

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