quarta-feira, 30 de abril de 2008

Vergonha!


A notícia é devastadora: “ Chumbos no básico e secundário custam mais de 600 milhões de euros por ano”, titulam os jornais.
A porta-voz do escândalo é a ministra da educação.

Pergunta:
Quem são os responsáveis por esta tragédia social que se vive na escola, em que milhares, centenas de milhares de cidadãos e cidadãs, gerações seguidas, são excluídos desse bem essencial, direito constitucional, que é o 9º ano, a escolaridade mínima “obrigatória” , através do chamado insucesso e abandono escolar?

A ministra faz de conta que não tem nenhuma responsabilidade.
Para quem sobra, então? Quem vai pagar a factura? Nós, professores e professoras? E então os primeiros-ministros e ministros que se vêm sucedendo?
As declarações que hoje vieram a lume e a pretensa preocupação são mais um momento de uma insuportável farsa. Porque não se vislumbra uma medida, uma estratégia à altura de reverter a crise que justamente se alimenta de um sistema de ensino que produz e reproduz o seu próprio veneno.

Se é verdade que esta taxa brutal de repetentes com que trabalhamos, que em algumas turmas pode ascender aos 70 e mais por cento, é um dos cancros do sistema; se é evidente que esta multidão de repetentes-revoltados conduz a um ambiente contrário ao trabalho intelectual e à formação humanista das crianças e jovens; se temos que reconhecer que a cultura do chumbo é uma desgraça – quem são os primeiros responsáveis?

Quando se diz que são “as escolas que definem os planos de acção, estabelecem as metas e pedem os recursos de que necessitam” (ministra ao “Público” de 30 de Abril) , o que se pretende? As escolas pedem os recursos e qual a resposta?
Não brinquem connosco!

Onde estão as equipas de psicólogos, assistentes sociais ,terapeutas da fala que nos possam ajudar? E os livros gratuitos para todos e todas, ricos e pobres? E o almoço gratuito na escola?

Quem mantém a estúpida e anacrónica lei do chumbo com 3 negativas, obrigando os alunos e alunas a repetir também as outras 10 ou 11 disciplinas em que houve aproveitamento positivo declarado por outros 10 ou 11 profissionais? E as escala de 1 a 5, quando os países mais sérios usam escalas mais abertas, precisamente para prevenir o caos e a exclusão?

Quem não toma medidas para que os alunos em dificuldade em certas disciplinas beneficiem de aulas de recuperação com os seus professores durante o tempo justo depois de acabar o ano lectivo?

Parece mais fácil descarregar o insucesso para cima da classe docente. Já o sabíamos. E que nos oferecem a nós para ajudarmos a recuperar do atraso, encetar um plano de emergência que inverta a actual situação? Que palavras, medidas, apoios, estímulos?

Ódio, desconsideração, assalto ao nosso salário, divisão entre nós, destruição do trabalho em equipa, toneladas de papeis, reuniões inúteis e intermináveis, devoradoras da nossa energia, da nossa inteligência...

Se a escola pública bate no fundo e se ainda por cima aos professores e professoras nos querem pôr de rastos, onde é que isto iria parar?

Jaime Pinho

4 comentários:

miguel reis disse...

Pois é, os 600 milhões de euros de que a Ministra se queixa bem que podiam ser utilizados em medidas efectivas de combate ao insucesso escolar. É que turmas mais pequenas exigem mais professores e isso custa dinheiro. E livros gratuitos custa dinheiro ao Estado. E psicólogos e assistentes sociais também custa dinheiro ao Estado. O que a preocupa são os 600milhões de euros desperdiçados. Logo se vê que nunca estaria disponível para os empregar bem.

Unknown disse...

Colegas,
gostava de deixar um link para um comunicado de imprensa para o qual peço a vossa colaboração na divulgação:

http://ruby.dcsa.fct.unl.pt/moodle/file.php/212/docs/uk/comunicado_de_imprensa_professoras_portuguesas.pdf

Professoras portuguesas em terras de Sua Majestade
Jovens licenciadas seguem carreira de ensino no sistema educativo inglês

Desde 2006, já quatro jovens licenciadas em Ensino de Ciências da Natureza pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCTUNL) se mudaram para Inglaterra, seguindo o sonho de serem professoras de ciências. Uma está actualmente colocada numa escola pública e as restantes estão a preparar-se
para isso.

Inglaterra, 1 de Maio de 2008

Grato pela atenção, subscrevo-me
João Fernandes

miguel reis disse...

caro João:

O link que deixou não permite aceder à notícia...
Tem possibilidade de enviar a notícia toda? Para movimentoescolapublica@gmail.com

Obrigado!

Silvana Paulino disse...

Ora, nem mais.
E o que o Miguel Reis disse também bate no ponto.
Se a Madame está preocupada com o desperdício de dinheiro que o empregue a tomar as medidas sugeridas pelo Jaime e outras.
E a perda humana que ocorre nesse processo? Essa...não tem preço.