segunda-feira, 31 de março de 2008

Apelamos à suspensão deste processo de avaliação em cada escola!

O Movimento Escola Pública faz uma apelo a todos os professores: Que tomem as medidas necessárias para suspender o processo de avaliação de desempenho na sua escola!

Em final de ano lectivo, as escolas devem concentrar-se na aprendizagem dos alunos e não em burocracias intermináveis. Este processo de avaliação só vem trazer instabilidade e não serve para melhorar o desempenho real dos professores, prejudicando também pais e alunos.
Por isso apelamos a todas as escolas que suspendam o processo de avaliação, seguindo o exemplo de muitas escolas do país que já tomaram essa iniciativa.
Convidamos todos os professores a utilizarem todos os meios para concretizar este objectivo, seja através de Reuniões Gerais de Professores, de referendos, de reuniões de departamento e principalmente através da deliberação dos Conselhos Pedagógicos.
Estas tomadas de posição devem ser o mais amplamente divulgadas. Solicitamos o seu envio para movimentoescolapublica@gmail.com.

Juntos temos mais força

STOP - Modelo de avaliação imposto pelo governo.


A pedreira intelectual

Jorge Pedreira admitiu o óbvio: a Avaliação do Desempenho não tem por objectivo cimeiro aumentar a qualidade da oferta educativa das escolas e, muito menos, promover o desenvolvimento profissional dos docentes. Nas palavras do Secretário de Estado (que é Jorge mas que de educação nada percebe) apenas visa contribuir para a redução do défice público. - Eureka! O enigma da má-fé ministerial fica finalmente revelado.

No fórum da 'TSF' da manhã de hoje, Pedreira (o tal que é Jorge e por acaso é Secretário de Estado), justificou os motivos pelos quais o ME discorda da proposta de António Vitorino em adiar a avaliação e testar-se o modelo preconizado pelo ME em escolas piloto durante um ou dois anos.

Pedreira (o Jorge, que até é secretário da ministra Lurdes), confessou o politicamente inconfessavel: 'Terá de haver avaliação para que os professores possam progredir na carreira e assim possam vir beneficiar de acréscimos salariais' (sic).

Ou seja, aquilo que hoje se discute no mundo ocidental (democrático e desenvolvido, como rotula mas desconhece a primeira ministra), gira em torno da dicotomia de se saber se a avaliação do desempenho docente serve propósitos de requalificação educativa (se para isso directamente contribui) ou se visa simplesmente constituir-se em mais um instrumento de redução do défice público.

Nesta matéria, Pedreira (o tal que é Jorge e ao mesmo tempo teima em ser secretário da ministra que também parece oriunda de uma pedreira), foi claro: Importa conter a despesa do Estado com a massa salarial dos docentes; o resto (a qualidade das escolas e do desempenho dos professores) é tanga(!).

Percebe-se, assim, porque motivo este modelo de avaliação plagia aquele que singra na Roménia, no Chile ouna Colômbia. Países aos quais a OCDE, o FMI o New Public Management americano impôs a desqualificação da escola pública em nome da contenção da despesa pública; Percebe-se, assim, porque razão a ministra Maria de Lurdes (que tem um secretário que é Jorge e, como ela, também é pedreira) invoque a Finlândia para revelar dados estatísticos de sucesso escolar e a ignore em matéria de avalição do desempenho docente. Percebo a ministra pedreira: não se pode referenciar aquilo que não existe. A Finlândia, com efeito, não tem em vigor qualquer sistema ou modelo formal e oficial de avaliação do desempenho dos professores!

Agradeço à pedreira intelectual que graça no governo de Sócrates (que por acaso não é Jorge nem pedreiro - até é engenheiro), finalmente nos ter brindado com tão eloquente esclarecimento. Cito-os:
A avaliação dos Docentes é mais um adicional instrumento legislativo para combater o défice público(!).
Obrigado, Srs. Pedreiras, pela clarificação do óbvio.

(e-mail recebido pelo movimento escola pública)

Acção pela escola pública esta sexta-feira

O Movimento Escola Pública apela a todos os professores e cidadãos para a participação na acção em defesa da escola pública, esta sexta-feira, dia 4 de Abril, entre as 18 e as 20h, no Largo Camões em Lisboa.

Recitaremos poemas pela escola pública e juntaremos vozes pela suspensão deste processo de avaliação.

APARECE E PASSA A PALAVRA


Em final de ano lectivo, é preciso devolver paz e serenidade às escolas, suspender o modelo de avaliação imposto pelo governo, garantir a aprendizagem dos alunos

Defendemos a avaliação pública, transparente, integrada e centrada nas escolas

Defendemos uma escola com professores e outros profissionais motivados e empenhados em prol do sucesso dos alunos e da participação das famílias

A cada Escola o direito a condições que garantam o sucesso escolar a todos os alunos e a dignidade de trabalho a professores e outros profissionais

Para que serve o modelo de avaliação de professores imposto pelo governo?

Para além do preenchimento de toneladas de papéis - sem haver avaliação feita por quem saiba mais e faça melhor – o Ministério faz de conta, e encaixa os (as) professores (as) em quotas e categorias, para poupar dinheiro.
As Escolas correm o risco de ter professores com menos tempo para preparar aulas e menos disponíveis psicologicamente.
A Escola Pública não necessita de mais papéis, burocracia e instabilidade. Este processo não ajuda à evolução e a uma atitude de maior responsabilização.

Pode alguma reforma do ensino ir contra professores, alunos e famílias?
Defendemos que é preciso parar imediatamente o processo actual, garantir que todas as partes participem na reflexão e no debate sério e leal sobre o modelo de avaliação que sirva a escola pública, as famílias e os alunos.
Esta Escola que é nossa, cidadãos comuns, pais e professores, é contrária à Escola pretendida pelo actual Ministério da Educação, que faz dela uma empresa, onde obedece quem trabalha, manda quem pode.
O Ministério faz de conta que avalia, porque o 1º Ministro quer dizer em 2009 que é “moderno” porque avaliou os professores. Mas nada disto é sério.
Pare também um momento e pense nisto. Se puder, converse com outras pessoas, forme opinião. Os nossos filhos e filhas merecem o cuidado e a atenção.

STOP – MODELO DE AVALIAÇÃO IMPOSTO PELO GOVERNO

CONCENTRAÇÃO NO LARGO CAMÕES SEXTA-FEIRA ENTRE AS 18 E AS 20H


domingo, 30 de março de 2008

O quê que podemos fazer amanhã?


Amanhã começa o terceiro período. Voltamos às escolas, depois da interrupção da Páscoa, e a pergunta que nos tem acompanhado desde da marcha do dia 8 de Março permanece, continuamos a perguntar o quê que fazemos amanhã? O que podemos fazer para manter alta a resistência e continuar a pressionar o Governo de modo a conseguir a suspensão deste modelo de avaliação injusto, complicado e hierarquizante? Podemos enviar “e-mails” aos deputados do Partido Socialista que são ou foram professores relatando as nossas queixas sobre o modelo de avaliação proposto pelo Governo. A acção é promovida pela Federação Nacional de Professores (Fenprof). Segundo o Jornal Expresso de sábado 29 de Março, a Fenprof pretende fazer chegar às escolas, a partir da próxima semana, a identificação dos deputados e os respectivos endereços electrónicos. O objectivo desta acção é "facilitar o diálogo", permitir que estes parlamentares possam ouvir "a voz do povo, das pessoas que representam e pelas quais foram eleitas para a Assembleia". Estas acções são oportunidades para manifestar o nosso desagrado e indignação perante este modelo de avaliação. Este modelo proposto pelo Governo tem um objectivo diferente do objectivo principal da Escola Pública, que é melhorar a qualidade da escola e não estimula a cooperação nas escolas.

Beatriz Dias

Fonte: Jornal Expresso, p. 19, 29 de Março

Diferenças de exigência


Da blogosfera nos chegam controvérsias sobre a aparente ou secreta (?) inspiração chilena do modelo de avaliação proposto pelo Ministério da Educação em Portugal, alertas sobre os modos de agir na Finlândia, antes oportuna a Sócrates, uma referência cada vez menos cómoda, à medida que a gente procura saber, e sabe, mais.

E no entanto, em Portugal, há menos de 90 dias, encontrámos as bases de um modelo alternativo de avaliação, a tal que a senhora ministra disse aos jornais, e eles aceitaram sem contestar, que os professores não queriam nem propunham. 3 perguntas, que quem pergunta quer saber.
Ariana Cosme e Rui Trindade, em a página da educação (Dezembro 2007) escreviam assim:

(...) Como construir uma avaliação de desempenho alternativa? Isto é, uma proposta de avaliação que estimule a reflexão profissional, mais do que o controlo burocrático?
(...)

Um projecto de avaliação que construiria, assim, os seus referentes fundamentais, a partir de uma primeira pergunta: O que é que eu espero que os meus alunos aprendam e realizem?
Uma pergunta que justifica uma outra, «O que é que eu vou fazer para que os alunos aprendam e realizem aquilo que eu espero que os meus alunos aprendam e realizem?»,
e ainda uma terceira, «Como é que eu vou avaliar o desempenho dos meus alunos e o meu próprio desempenho?»

São estas as questões que poderão inspirar um outro tipo de postura profissional dos educadores e dos professores, em função da qual a problemática da avaliação do desempenho adquire uma importância estratégica nuclear para o desenvolvimento dessa mesma postura. (...)
A imagem é do Brasil. O quadro não é interactivo.
O giz não requer software proprietário adicional. É open-source, e só se paga uma vez.

sábado, 29 de março de 2008

INFLEXIBILIDADE DO M.E. OBRIGA À CONTINUAÇÃO DA LUTA

[Com o reinício das actividades lectivas à porta, divulga-se o documento da Plataforma Sindical de Professores:]

O ME, no que à avaliação de desempenho diz respeito, pretende impor, teimosamente, a pior solução – implementar de qualquer maneira, ainda este ano, o processo de avaliação – provocando a balbúrdia e a perturbação nas escolas com situações de manifesto desrespeito pela lei e geradoras de injustiça.

SUSPENDER A AVALIAÇÃO É, NÃO SÓ, A EXIGÊNCIA DA PLATAFORMA,
MAS A MELHOR SOLUÇÃO…
… Por ser muito desigual a situação entre escolas: umas já avançaram quase integralmente com o processo de avaliação, enquanto outras ainda não o iniciaram.
Em todas as escolas há uma constante: a incerteza e a perturbação sobre o que se deve fazer.
… Porque, as escolas que já avançaram, no todo ou em parte, com os procedimentos da avaliação fizeram-no num quadro de desrespeito pela lei, não tendo em conta que os despachos de enquadramento (despachos de 24/1 e 25/1 dos secretários de estado) foram suspensos por providências cautelares. Posteriores orientações do ME procuraram, apenas, contornar essa situação remetendo para as escolas o ónus de eventuais ilegalidades;
… Por não ser justo, nem legal, que o processo decorra de forma diferente entre escolas ou, dentro da mesma escola, entre professores. Neste caso, não se coloca a questão de autonomia, pois a legislação é clara no que respeita à uniformização do processo. Uma coisa será a existência de instrumentos próprios de avaliação interna, outra seria a existência de procedimentos diferenciados, uns mais simplificados, outros de maior complexidade. Estariam postos em causa princípios como os da igualdade e da equidade.
… Por não haver outra solução dentro do quadro legal que vigora, pois:
a) ou há condições para aplicar o disposto no Decreto Regulamentar nº 2/2008, de 10 de Janeiro, que já contempla procedimentos simplificados para 2007/2008, designadamente nos seus artigos 33º e 34º, e hoje sabe-se que tal, no seu conjunto, é manifestamente impossível;
b) ou terá de se suspender a sua aplicação este ano.
Qualquer solução de outro tipo, intermédia ou diferenciada, seria ilegal e permitiria que o docente sujeito à avaliação a impugnasse.

O EQUÍVOCO DOS “7.000”
Não serão apenas 7.000 os docentes em avaliação em 2007/2008, mas a totalidade. A diferença é que 7.000 serão já este ano classificados, sendo os restantes apenas no final do biénio (2008/2009). Portanto, esta confusão entre “avaliação” e “classificação” tem sido uma forma de o ME, junto da opinião pública, procurar criar uma imagem de flexibilidade, ao mesmo tempo que, de facto, quer impor, já este ano, os processos de avaliação, aplicando-os à totalidade dos docentes.

O PROBLEMA NÃO SE RESUME À AVALIAÇÃO
A avaliação é apenas uma peça, embora muito importante, do ECD que nos foi imposto. Desse ECD decorre ainda a divisão da carreira em categorias, a prova de ingresso na profissão ou as sobrecargas de horário e trabalho que todos sentem no seu dia a dia profissional, entre outros aspectos negativos.
Por essa razão, a revisão, em 2009, do “ECD do ME” é uma das exigências dos professores. Reconhecendo que esse não é um processo simples, no imediato exigimos a suspensão da avaliação e que, em 2008/2009, esta avance a título experimental, havendo, no final, um período para a alteração negociada do regime que vigora.

A RESOLUÇÃO APROVADA NA MARCHA PROPÕE MEDIDAS
PARA DESBLOQUEAR A ACTUAL SITUAÇÃO DE CONFLITO
O que separa os professores do ME não se resume ao ECD. Por essa razão aprovámos uma Resolução que contempla outros aspectos. Foi com base nela que se apresentaram ao ME as seguintes propostas com que se pretendia contribuir para o desbloqueamento da actual situação de conflito com os professores:
1. Suspensão da avaliação do desempenho este ano lectivo e garantia de que, daí, não advirão prejuízos para os professores;
2. Não aplicação, este ano, de qualquer procedimento decorrente do novo regime de gestão que ainda aguarda promulgação e posterior publicação;
3. Negociação de normas sobre horários de trabalho para 2008/2009 que garantam um mínimo de 9 horas de componente individual e a consideração efectiva da formação contínua como integrando o horário de trabalho dos professores;
4. Respeito pelas decisões e sentenças dos Tribunais, designadamente pela extensão de efeitos das já transitadas em julgado;
5. Renegociação, em 2009, da revisão do ECD, da nova legislação sobre direcção e gestão escolar e do novo regime sobre Educação Especial.
Estas foram as reivindicações imediatas que 100.000 professores aprovaram em 8 de Março, na Marcha da Indignação. O ME nem à primeira delas admitiu dar resposta positiva.
Surgiu, de início, uma certa abertura do ME. Porém, essa atitude foi logo negada pela ministra, em Conferência de Imprensa. Nos dias 14 e 17 de Março, em novas reuniões, confirmou-se a inflexibilidade ministerial.
Se, nas questões de fundo, o ME assume a total inflexibilidade, há um conjunto de aspectos relativos ao processo de avaliação que o ME afirma ter “aligeirado” ou “flexibilizado” designadamente, para escolas onde não se verifiquem as condições necessárias para a plena aplicação do processo de avaliação: ausência de observação de aulas, simplificação das fichas de avaliação, etc.
Todavia, estas medidas nada alteram de essencial ao problema que existe, limitando-se o ME a tentar, por todas as formas, que a avaliação de desempenho seja implementada, já no actual ano lectivo, de modo diversificado o que criará situações de grande confusão, de desigualdade e de injustiça relativa.
Em suma, o ME quer simplificar a avaliação para garantir, apenas, que o processo avance mesmo onde não há as condições mínimas, o que é inaceitável.

O QUE PODEM FAZER OS PROFESSORES NAS ESCOLAS
Os professores, inclusive os que integram os órgãos de direcção e gestão escolar, têm uma palavra essencial a dizer quanto ao desenvolvimento deste processo na sua escola e que deverá ser expressa, colectivamente, evitando posições de isolamento.
Em primeiro lugar, deverão exigir o cumprimento da lei em vigor, só devendo permitir o desenvolvimento do processo quando estiverem asseguradas as necessárias condições, nomeadamente sobre o ponto de vista jurídico, e exigindo, também, que essa aplicação seja feita no respeito pelas condições de funcionamento e as opções organizacionais da escola.
A esse nível, o Conselho Pedagógico terá um papel essencial, pois compete-lhe aprovar as fichas de avaliação, o que deve fazer respeitando a lei e os interesses dos professores e estudantes, não devendo aceitar pseudo-soluções que seriam ilegais e geradoras de problemas e dificuldades acrescidas. O ME não pode fazer avançar o processo num quadro de ilegalidade.
Os professores deverão opor-se a que se lhes apliquem procedimentos ilegais. Recorda-se que as providências cautelares ainda não mereceram decisão definitiva, o que retira eficácia a qualquer acto que decorra dos três despachos que continuam suspensos.
Da mesma forma, qualquer procedimento de avaliação a que, na sua escola, o professor seja sujeito, é sempre passível de impugnação.
Em qualquer situação de dúvida deverão os professores contactar, sem demora, os serviços jurídicos dos seus Sindicatos.

A ACÇÃO E A LUTA DOS PROFESSORES
Caso o ME mantenha a sua decisão, não nos resta outra alternativa que não seja continuar a lutar para que se possa ser Professor e para que a Escola Pública resista à actual política.
Nesse sentido, encontram-se previstas acções públicas de protesto para as primeiras semanas do 3º período (as segundas feiras de protesto, entre 14 de Abril e 5 de Maio).
O dia 15 de Abril será o Dia D, de Debate nas Escolas, em que os professores se reunirão para fazerem o ponto da situação e, sobretudo, debaterem a forma de prosseguir a sua justa luta que, a partir daí, deverá tornar-se ainda mais forte.

VAMOS APROFUNDAR E VALORIZAR A FORÇA E A UNIDADE DOS PROFESSORES
A PLATAFORMA NÃO DESILUDIRÁ OS 100.000 PROFESSORES E EDUCADORES QUE TORNARAM GRANDIOSA A MARCHA DA INDIGNAÇÃO


A Plataforma Sindical dos Professores

sexta-feira, 28 de março de 2008

Protesto contra o modelo e o processo de Avaliação dos Docentes

ESCOLA SECUNDÁRIA DE BOCAGE
Setúbal

Face ao absurdo de que se revestem o modelo e o processo de avaliação dos
docentes que o Ministério da Educação teima em implementar, os Coordenadores de
todos os Departamentos e outras substruturas da Escola Secundária de Bocage, em
Setúbal, com assento no Conselho Pedagógico, transmitindo o sentir da grande maioria
do corpo docente, juntam a sua ao coro das inúmeras vozes de protesto, representativas
de escolas, de substruturas escolares, ou de pareceres individuais, que, com a
honestidade profissional e a validade argumentativa de quem sabe o que é ser Professor,
salientam:
1. O afã da implementação do modelo, sem tempo para uma preparação séria,
reflectida e criteriosa.
2. A imposição da sua execução quando o próprio Ministério ainda não
disponibilizou muitos e importantes suportes inerentes ao processo e consignados no
Decreto Regulamentar nº 2/2008 de 10 de Janeiro, nomeadamente nos seus artigos 6º,
20º, 21º e 29º.
3. A tentativa de dar resposta ao artigo 6º nomeando uma presidente para um
órgão não constituído, a qual emitiu recomendações, umas e outra de validade jurídica
duvidosa porquanto geradoras de providências cautelares.
4. O sangramento das energias dos Professores e do seu verdadeiro mister numa
burocracia desmedida, obrigados que ficam ao cumprimento de incontáveis horas além
das que a lei geral do trabalho lhes impõe, em desrespeito de direitos elementares; e, por
via disso, com o mais que certo prejuízo na preparação das actividades lectivas e, logo,
o também mais que certo reflexo negativo no bem-estar afectivo, emocional e social.
5. A falta de lisura no processo, porquanto o docente será também avaliado por
uma qualidade para a qual, a curto prazo, lhe será mais difícil trabalhar.
6. A preocupante carência de centros de formação que dêem resposta adequada
às necessidades de todos os docentes, a quem se exige, simultânea mas paradoxalmente,
certificados com aproveitamento de acções para poderem progredir na carreira (ou seja,
“Tens de fazer, embora não tenhas onde”). A não ser que o Professor se prontifique a
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pagar do seu próprio bolso uma formação cujo ónus deve caber exclusivamente à
entidade empregadora, já que se pretende que as escolas tenham uma dinâmica
empresarial.
7. O perigo ético, que deriva da ausência de uma formação em avaliação de
desempenho e supervisão pedagógica para os Coordenadores de Departamento,
enquanto avaliadores.
8. As falhas técnicas na concepção das grelhas de avaliação, dificultando a sua
operacionalização.
9. A total subversão dos valores educativos e da formação integral do indivíduo,
com o rosto do controle da qualidade, e em prol das estatísticas, ao fazer depender a
avaliação dos docentes dos resultados da avaliação dos seus alunos, quando é certo que
nesses resultados influem muitos factores que os Professores não podem de modo
algum controlar. Conviria que os que nos tutelam percebessem que, perante turmas
diferentes, o mesmo Professor obtém resultados diferentes. Está na lógica. O que muda,
a cada bloco de noventa minutos, não é a qualidade do Professor, permanentemente à
prova de adaptação a novas realidades-turmas. Questione-se a tutela sobre a sua quota
de responsabilidade relativamente a desajustamentos e extensão de programas; ou sobre
as reais condições de trabalho de muitíssimas escolas. E a avaliação será muito mais
fiável e idónea.
Mais haveria a salientar. E desta espécie de alucinação em que estamos
mergulhados, uma evidência importa relembrar, entre todas: os erros que se cometem
em política educativa, a golpes de legislação, não se corrigem de imediato com
decretos; antes marcam indelevelmente uma geração, com repercussões que se
propagam em exponencial. Quem assumirá a responsabilidade do erro terrível que está a
cometer-se na educação portuguesa?
Escola Secundária de Bocage, 27 de Fevereiro de 2008
Os Coordenadores do Conselho Pedagógico

Saber e Liberdade

Queremos uma Escola onde possamos educar os nossos filhos, os nossos alunos na descoberta do saber e na liberdade de pensamento e de escolha, uma educação alicerçada nos valores e princípios da Declaração Universal dos Direitos do Homem.
A Escola que queremos e pela qual lutamos é um espaço de liberdade e com ela a capacidade de pensar e agir, de igualdade e nela, o enriquecimento na diferença e fraternidade e com ela a partilha e defesa do outro
Esta Escola que é nossa, cidadãos comuns, pais e professores é contrária à Escola pretendida pelo actual Ministério da Educação que faz dela uma empresa, onde obedece quem trabalha, manda quem pode:
Não há no estatuto do aluno uma única medida capaz de servir os nossos propósitos. No dizer de um exímio psiquiatra português, Daniel Sampaio, " o estatuto do aluno é monstruoso";
O estatuto da carreira docente visou a sua fractura, criando-se artificialmente professores de 1ª e de 2ª, em que os primeiros com a função de chefe serão obrigados, segundo critérios subjectivos impostos, a classificar individualmente, os segundos;
O actual regime de contratação é dos mais precários que conhecemos, um professor com menos de 8/10 anos de serviço, poderá andar 20 e mais anos com um contrato a prazo;
Aniquila-se a eleição democrática para os órgãos directivos e pedagógicos da Escola, e instituiu-se a nomeação do director, ao sabor do Poder dominante, e nomeado por aquele, os restantes.
Pelo exposto, estes documentos têm na sua génese tudo o que é contrário a uma educação e crescimentos humanos, estão eivados de uma prática corruptiva das consciências e são pois por si só, um instrumento de destruição do actual modelo da Escola Pública.
Por isso, manteremos os nossos protestos e não nos conformaremos, enquanto o quadro legal que faz da Escola uma empresa, Contratação, Estatuto do Professor, Estatuto do Aluno, Avaliação e Gestão não for suspenso e imediatamente revisto


Anabela Almeida Barros, professora na Escola E.B 2,3 António Bento Franco - Ericeira

A Nebulosa Reaccionária

De Os Tempos que Correm, de Miguel Vale de Almeida: http://blog.miguelvaledealmeida.net/?p=252. Não deixe de ler!

quinta-feira, 27 de março de 2008

Ver as diferenças

Diariamente nos jornais, a escola portuguesa tem vindo a muitas vozes. Ainda, sobretudo, apenas a escola pública. Por enquanto?

O que há de novo? Não ser só o Governo a fazer ouvir, todas as semanas, todos os dias, a sua voz sobre as escolas nos jornais e na TV.
Depois da marcha dos cem mil, há muito mais gente a mostrar que aprendeu a usar informação ao modo de hoje, aos media do presente e do futuro. Quanto mais não seja, com o efeito da diferença visível, ou legível, que é ajudar a pensar.
A pensar é que a gente se entende, e há-de se fazer entender. A pensar e a dizer, a escrever e a ler.


Imagem anónima (?) raptada , com vénia, de www.forum-numismatica.com.
Reproduz detalhe de 2 moedas de escudo de 1935, uma verdadeira e outra falsa


Ler+
Critérios de selecção: informação muito recente, excluindo a que se refere ao caso youtube-confronto-em-sala-aula e à violência nas escolas; eliminação de notícias repetidas.

Público de hoje (ah, as maravilhas da web...):
Mais professores querem trocar a sala de aula pela reforma antecipada (Pág: 11)
Retratos de seis docentes com currículos dignos de nota que preferem ser penalizados monetariamente a continuar a exercer a profissão que escolheram (Pág: 11)
e de ontem
A escola, o ministério e a vida (Pág: 41)
Ministério permite que os professores fiquem na mesma escola por mais um ano (Pág: 9)

Diário de Notícias de há 3 dias
NEM ANJOS INOCENTES, NEM GERAÇÃO RASCA , artigo de João Miguel Tavares

Jornal de Notícias de há 3 dias
Pais ameaçam fechar escolas do 1º ciclo (Aveiro). Até agora, os pais compravam as senhas, diária ou semanalmente, na escola. A partir de 1 de Abril, a Câmara obriga os responsáveis pelos alunos, de todos os agrupamentos, a ir às instalações camarárias, para adquirir as senhas

TSF de há uma semana
Os presidentes dos conselhos executivos de todos os agrupamentos escolares e escolas secundárias de Coimbra estiveram reunidos e decidiram propor à ministra da Educação a suspensão do processo de avaliação dos professores.

Setúbal, 3 de Abril, 21.30

Assembleia Pela Escola Pública

Falar em presença, para variar da comunicação blogueira e em listas de emails



Em Setúbal, no Ateneu Setubalense - Rua em frente à Rodoviária, e à Papelaria Galo.



Aberto a quem quiser e puder.

4 já quiseram, e por isso estão no cartaz: Liseta Barbosa (SPGL), António Sota Martins (FNE), António Castela (FERLAP) e Cecília Honório (Movimento Escola Pública)


A imagem do cartaz é esta, por enquanto, por motivo de manifesta incompetência da blogueira de serviço ;). Assim que houver melhor, substitui-se.



Ora divulguem, compareçam.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Até onde vigiar? Até onde punir?

O procurador dá prioridade à violência nas escolas, a aluna vai a tribunal e Diogo Feio ganhou uma Páscoa política à borla.

E, já agora, o que vai acontecer ao aluno ou aluna que filmou e pôs o vídeo na net? É legal, é banal, passa porque é jovem e tal?

A Comissão Nacional de Protecção de Dados tem posto freio à paranóia securitária de governo e de algumas direcções de escolas que bem queriam câmaras de videovigilância no seu interior. O que é que professores e alunos achariam de ter uma câmara dentro da sala de aula, em nome da segurança?

E se a direita canta e ri, em cada dirigente do PS há um PS para todos os apetites. Valter Lemos dá uma prova única de tino ao lembrar que a aluna, se não tem 15 anos, está dentro da escolaridade obrigatória (e o Estado tem com ela compromissos acrescidos). Mas Jorge Coelho tem uma grande amiga que foi sequestrada por causa de um telemóvel e, se acha grave o silêncio dos adultos responsáveis pelas escolas (e acha bem), também “no seu entender, o facto de os alunos adolescentes serem inimputáveis criminalmente favorece a impunidade”.

Se isto não é uma campanha nacional contra os telemóveis, o melhor mesmo era que Jorge Coelho e Diogo Feio se juntassem e propusessem um projecto Coelho-Feio: um polícia para cada aluno, uma câmara de videovigilância em cada sala…

Cecília Honório

Autoridade pedagógica e sabedoria ética

A autora destas linhas profissionalizou-se na função docente num tempo marcado pelo espírito de revolta em relação a todas as formas de autoridade. Um tempo de rupturas extraordinárias, sedento de novidade e profundamente crente nas mais ambiciosas promessas de futuro. Mas, paradoxalmente, um tempo obsessivo em relação à fruição do presente.

Éramos jovens, queríamos o mundo e queríamo-lo sem demoras ou concessões. Radicalizando o apelo de Bachelard, entendíamos que cada um deveria saber tornar-se em «Prometeu de si-mesmo» num mundo com muitos direitos e poucos deveres, sendo que um deles, o mais fundamental, dizia respeito ao compromisso para com o próprio bem-estar. A vida era olhada como um crédito imenso, tudo era possível, tudo era permitido. Palavras como obediência, esforço, tacteamento, paciência ou disciplina, perdiam sentido em dias que eram, sempre, primeiros dias. E não éramos só nós, era o mundo todo que tumultuava em estado de juventude.


Que significado tem reclamar agora o respeito pela autoridade daquele que ensina – o educador professor? Será que, porque nos fomos fazendo menos novos, acabámos por capitular perante as exigências autoritárias e conservadoras do passado?


Assumindo convictamente a autoridade como um valor pedagógico e, nessa medida, como eixo de identidade profissional docente, retomo a «lição» desse tempo jovem, solidário, ingénuo e incrivelmente generoso, para sublinhar as competências que, a meu ver, evidenciam a sabedoria ética dos professores.


Competências como hospitalidade, responsabilidade e bondade. Hospitalidade entendida como capacidade de abertura, de escuta e de relação, como disposição para acolher a diferença misteriosa testemunhada por outro ser humano e a partir da qual se desenvolve uma responsabilidade profissional activa. Uma responsabilidade que, ao ser também investida pelo poder subversivo da bondade, deve ser vivida num contexto de sensibilidade, diálogo, atenção e cuidado. Uma responsabilidade afirmada, portanto, como autoridade sem autoritarismo. Neste sentido, vejo a autoridade numa lógica de proximidade pessoal e não de distância ou incomunicação, como acontecia outrora.

É aqui que situo a herança preciosa da chamada «não-directividade». Valores como empatia, congruência, consideração positiva, os princípios basilares da corrente anti-autoritária defendida por Carl Rogers, mantêm toda a sua pertinência no âmbito de uma pedagogia que desejamos centrada na aprendizagem. (...)

Isabel Baptista, Abril de 2005, publicado em “a página da educação”.
Lê aqui o artigo na íntegra.

Pergunta oportuna....

A deputada do Bloco de Esquerda (BE) Ana Drago questionou hoje o Ministério da Educação sobre se admite vir a abrir processos disciplinares aos professores com funções de coordenação que não fizerem a avaliação de desempenho

Numa pergunta escrita entregue na Assembleia da República, Ana Drago argumenta com as declarações contraditórias entre o secretário de Estado da Educação, Jorge Pedreira, sobre as «soluções flexíveis» na avaliação e a ministra Maria de Lurdes Rodrigues que recusou que uma escola «possa decidir não fazer a avaliação».

A deputada bloquista cita ainda um decreto regulamentar - decreto 2/2008 - ao determinar que «a não aplicação do sistema de avaliação de desempenho do pessoal docente por razões imputáveis aos avaliadores determina a cessação das respectivas funções, sem prejuízo de eventual procedimento disciplinar».

Face às sucessivas notícias, nos últimos dias, de escolas que decidiram suspender ou adiar a avaliação durante, Ana Drago questiona o que pretende fazer o ministério.
A parlamentar do BE quer saber se a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, dá garantias de que «nenhum professor será afastado das suas funções ou será alvo de um processo disciplinar pelo facto de a escola ter decidido suspender ou adiar a aplicação do modelo de avaliação».

A contestação à avaliação e ao Estatuto da Carreira Docente, aprovada pelo Governo, juntou cerca de 100 mil professores numa manifestação, em Lisboa, a 8 de Março, e em que foi exigida a demissão de Maria de Lurdes Rodrigues.

Notícia Lusa/Sol

terça-feira, 25 de março de 2008

O tamanho das turmas

Este post foi "roubado" ao blogue hekate. Vale a pena ler.

"Estudiosos britânicos concluíram que turmas grandes são especialmente desvantajosas para os alunos com maiores dificuldades que sofrem mais com a falta de atenção individualizada e que por consequência "se perdem"…


Acrescentar cinco alunos a uma turma aumenta em 40% a probabilidade dos alunos com dificuldades não atingirem o sucesso. Em contrapartida, o efeito deste aumento é negligenciável para os alunos que têm maior facilidade na aquisição de conhecimentos.

Os estudos têm como base a observação de 686 crianças em 49 escolas. Descobriu-se que em turmas de 30 alunos, o mau comportamento dos alunos com maiores dificuldades, mais do que duplica se comparado com o que acontece em turmas de 15 alunos[1]. O Professor Peter Blatchford, autor do estudo, declarou que para estes alunos é muito importante aumentar o número de interacções individualizadas, turmas maiores obrigam a uma atitude mais passiva por parte dos alunos e levam a uma atitude de “desistência”.

Estudos anteriores indicavam que as crianças beneficiam quando as turmas têm entre 15 e 20 alunos mas, os estudos conduzidos pelo Professor Dylan William sugerem que diminuir o número de alunos por turma para aumentar a qualidade das aprendizagens, é uma medida cara que só se justifica em casos em que há alunos com problemas de comportamento.

Nós, por cá, em consequência das alterações legislativas recentes, nomeadamente, pelo DL n.º 3/2008, que implica uma maior selectividade nos alunos que podem ser abrangidos pelo regime de Educação Especial e, que deixa de considerar que a inclusão destes alunos implique a redução da turma. Ou seja, não só os serviços especializados de Educação Especial irão prestar apoio a menos alunos (o diploma impõe critérios muito rígidos, nem sempre passíveis de serem devidamente documentados sobretudo, por famílias de menores recursos) como ainda, muitos alunos que até à data beneficiavam de apoio especializado irão ver-se desprovidos do mesmo, e irão ver-se integrados em turmas normais.

O alunos com necessidades educativas especiais de carácter permanente e, todos os outros que por circuntâncias diversas tinham, até agora, beneficiado de apoio pedagógico acrescido (especializado), ver-se-ão integrados em turmas onde a interacção individualizada com o professor será inadequada com as inevitáveis sequelas ao nível do seu comportamento e do sucesso escolar.

Que sucesso estaremos nós a promover para estes alunos no mesmo ano em que Portugal anuncia, com pompa e circunstância, a organização de uma conferência internacional sobre a Escola Inclusiva?"

Consulta o estudo publicado no The Guardian

segunda-feira, 24 de março de 2008

Defender-se do presente com o passado?

Regressado de dois dias na Santa-Terrinha, vejo como o centro do debate mudou. Ainda é a Educação que dá que falar mas já não pelos mesmos factos. O vídeo da professora "à rasca" com uma aluna que tenta a todo o custo recuperar o telemóvel, e com os colegas a pedirem aos outros colegas para sairem da frente porque a coisa tinha que ser filmada, dizia eu, este vídeo que correu telejornais e jornais, suscitou os mais variados discursos, quase todos muito parecidos:

"Ai a autoridade dos professores já não é o que era..."
"Isto é uma pouca vergonha. A culpa é do estatuto do aluno que impede os professores de ter mão rija na sala de aula"
"A culpa é dos pais que já não ensinam os filhos a portarem-se bem"
"O governo tem culpas no cartório, porque desvalorizou de tal forma os professores, que lhes retirou autoridade"

A meu ver nenhuma destas linhas de pensamento resolve o que quer que seja. Os grandes críticos do "facilitismo", ou "contra o pedagogês", ou defensores das teorias pedagógicas unidireccionais , à antiga , em que "o aluno aprende está calado e o professor debita e impõe respeito", aproveitaram logo o momento para fazer valer as suas ideias. Do editorial de hoje de José Manuel Fernandes (cuja tese é a de que a importação para a escola portuguesa do professor do filme "o clube dos poetas mortos" está na origem da indisciplina que alastra por aí) às críticas demolidoras de Paulo Guinote a Paulo Freire (ou o seu elogio ao "examinês" contra o "eduquês"), o projecto parece ser o mesmo: disciplina, autoridade, esforço, submissão.

É muito fácil. É mesmo muito fácil vir ao de cima o saudosismo do antigamente quando as coisas começam a funcionar mal, quando a realidade de hoje desagrada e choca. É como aquela boca recorrente que ouvimos no autocarro: "no tempo do salazar não havia drogados nem tanta galderice...o que era preciso era dois salazares em cada esquina..."

Confesso que me faz impressão como o ser humano tem tanta tendência para defender-se do presente com o passado. Por isso rejeito as análises que centram a resolução do problema nas soluções autoritárias.

Dizer que a culpa é dos pais também não resolve nada. Não resolve porque o governo não pode obrigar os pais a portarem-se desta ou daquela forma com os filhos. Não resolve porque haverá sempre os meninos "bem educados" e os meninos "mal educados". E porque menoriza a escola na sua capacidade, que não é total mas existe, para mudar a vida e transformar comportamentos.

Dizer que a culpa é do governo porque destruiu a autoridade dos professores, também não me parece o camiho certo. É verdade que o governo achincalhou, humilhou, insultou, denegriu os professores. E fê-lo sem razão. Fê-lo por razões economicistas e de raiva. Mas também é verdade que mesmo que não o tivesse feito isso não teria evitado os casos de violência que sempre exisitiram e a indisciplina nas salas de aula. O problema é mais fundo e alguns alunos não precisam de uma ajuda do governo para fazerem o que bem entendem do espaço da sala de aula.


Por isso, inclino-me para um tipo de solução esboçada hoje pelo Rui Tavares na sua crónica no Público. Há que massificar a escola de elites. Ou seja, se hoje temos uma escola de massas, temos que fazer tudo para que a qualidade do ensino seja superior, superior mesmo à qualidade de ensino que existia quando a escola era só para alguns. Sem voltar aos métodos antigos, mas inovando nas práticas pedagógicas, com turmas mais pequenas, com mais professores, onde as preocupações de cada aluno possam ter tempo para se fazer ouvir, para terminar com a impessoalidade que reina em muitas salas de aula. Para que cada aluno sinta que aquele espaço também é seu e que o pode usar a seu favor. E são precisos também mais professores de apoio, que acompanhem individualmente os alunos. E é necessário também mudar esta situação insustentável de um professor ser obrigado a conhecer a cara e as vidas de 100 alunos por ano lectivo.

Neste aspecto, o governo tem muitas culpas. Porque estas medidas são caras. E como são caras, mesmo que sejam úteis e justas, deixam de ser pretendidas. A lógica do défice tem ganho sempre. Os professores no desemprego ou em situações de grande precariedade parecem fazer mais falta onde estão do que nas escolas, com estabilidade. Só que às vezes o barato sai caro....

E depois há outro debate a fazer: tornar a escola mais atractiva e mais actual, inovar nos currículos (educação sexual, educação artística, educação para a democracia, e por que não culinária e também tirar a carta de condução na escola?). Ligar mais a escola à vida, dar-lhe uma utilidade mais directamente perceptível para os alunos, diversificar os meios pedagógicos, recorrer mais à imagem e às novas tecnologias, envolver os alunos naquilo que aprendem. E isto nada tem que ver com facilitismo. A cultura do esforço só faz sentido se o produto do esforço fizer sentido para os alunos.


Miguel Reis

sexta-feira, 21 de março de 2008

Desvalorização social da escola pública

"Nenhum outro governo foi tão longe na amputação de direitos aos professores e na degradação das suas condições de trabalho, abrindo caminho à desvalorização social da escola pública e do papel dos profissionais de educação, que são o seu rosto"
Do Manifesto Escola Pública pela Igualdade e Democracia

Cegos, surdos e mudos

“Não me façam perguntas sobre avaliação que não lhe vou responder...”, “Não lhe vou responder aquilo que quer ouvir...” Foi assim, a ministra na interpelação parlamentar desta semana!
A sua passagem pela Assembleia da República, a forma insolente como recusou responder aos deputados e aos jornalistas revela um absoluto desprezo pelo confronto e pelo debate democrático. A dita poderia rebater, poderia emprestar às suas respostas o acinte ou a agressividade que entendesse, mas não, foi a ostensiva recusa a responder fosse o que fosse.
Admiração? Apesar de tudo alguma, ainda que a forma prepotente e miserável como continua a querer ignorar a vontade dos professores, expressa na marcha da indignação, nos cem mil professores na rua viesse dando nota grave desse tom.
O Governo veio com o papo cheio de bazófia moralista, dizer que não governa em função da “rua”, já estávamos fartos de ouvir. Mas, pelos vistos, governa sozinho, num total desdém pelo Parlamento, pelas oposições e por sectores expressivos do próprio partido que o sustenta, numa pulsão autista encharcada de tiques nada democráticos.
Isolados e acossados, ministra e os seus acólitos continuam afundando-se num pântano de irresponsabilidade e de insensibilidade social.
Com as pontes de diálogo cortadas com os professores, numa turbulência dentro do próprio partido que a suporta, o apoio obstinado e desvairado de Sócrates de pouco servirá para alterar a indignação, o inconformismo e a revolta que grassa entre os professores.
Na rua, evidentemente, teremos de continuar a insistir para suspender o processo de avaliação. Como nas escolas! Vamos parar o processo de avaliação! Sem medos. Com inteligência e com audácia. Está ao nosso alcance.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Provar por a; b; c; será bastante para quem o for

Imagem in http://members.aol.com/PoeSpecs/ftblack.jpg



O seu PCE é mais papista que o Papa? Anda a dar ordens que violam a legalidade? Assine e entregue este requerimento!
Que fique claro: a maioria dos PCEs (Presidentes dos Conselhos Executivos) não é mais papista que o Papa. Muitos estão ao lado dos professores e não se esqueceram ainda de quem os elegeu.
A maioria é cumpridora da lei, é tolerante e solidária com os professores. Há outros, porém, que andam a mostrar trabalho à tutela, na ânsia de evidenciarem o seu desejo de virem a ocupar o lugar de director. Há alguns, poucos ainda, que andam a intimidar os professores, que impõem a lei do silêncio e dão ordens que violam a legalidade. Se o seu PCE é dessa espécie, pegue nesta minuta, preencha-a, assine-a e entregue-a na secretaria da sua escola. Não se deixe intimidar.


Exmo/a. Sr/a. Presidente do Conselho Executivo da Escola 2,3,S Agrupamento de Escolas de



Pedido de confirmação ou de transmissão por escrito de ordem recebida oralmente

NOME , residente em/na , com o telefone nº , Bilhete de Identidade nº. , Contribuinte e com a categoria profissional de....., do Grupo de ....... / Ensino ....
a exercer funções docentes nesta Escola, informada/o oralmente do teor das seguintes ordens de serviço, da autoria do deste Agrupamento/Escola, de acordo com as quais a/o docente deve:
a) ;
b) ;
c)
…vem nos termos do nº 2 do artigo 10º do Decreto-Lei nº 24/84, de 16 de Janeiro, declarar, para os devidos e legais efeitos, que considera que as ordens supra descritas, podem não estar de acordo com a legislação em vigor.Mais requer a Vª Ex.ª, tendo em atenção o disposto no Estatuto Disciplinar (artigo 10º), se digne a emiti-la por escrito. Espera deferimento
LOCAL E DATA
Assinatura legível

Post raptado e adaptado do ProfAvaliação, 19.03.2008
A Imagem não é da mesma fonte.

Note-se que o pedido de ordem por escrito não permite, por si só, a recusa ao cumprimento da ordem, segundo os códigos adequados.
Entretanto, todos os alunos envelheceram mais um dia. Todos os outros também, qualquer que seja o seu lugar nas hierarquias. Aprenderemos, assim, alguma coisa. Basta-vos?
Maria José Vitorino

Vivam os sotaques da Línga Portuguesa. CONSTRANGIMENTOS???




Esta e mais imagens em

Regional 2008-03-18 16:52
O Sindicato dos Professores da Região Açores (SPRA)anunciou que uma recente reunião com o GovernoRegional permitiu dar "passos importantes" nas alterações ao Estatuto da Carreira Docente, como a justificação das faltas por doença.
Em conferência de imprensa, o presidente da estrutura sindical adiantou que, após um encontro na sexta-feira para entrega de um abaixo-assinado subscrito por três mil docentes, o secretário regional da Educação e Ciência assumiu "alguns compromissos" que permitem"ultrapassar" no arquipélago "constrangimentos que existem a nível nacional".
Armando Dutra destacou o caso da justificação das faltas, que passam a poder ser comprovadas por médicos dos sectores público ou privado da respectiva ilha, não interferindo na avaliação dos docentes. "Nenhum docente em situação de maternidade ou paternidade pode ficar prejudicado na sua avaliação econsequente progressão na carreira, mesmo que não cumpra 90 dias de aulas, requerendo apenas à direcção regional da Educação o suprimento da avaliação respeitante a esse tempo, que será equiparado a Bom", explicou o presidente do sindicato.
Armando Dutra disse ter sido também assumido o compromisso de não haver prova de ingresso na regiãoaté Janeiro de 2009 e que a sua eventual aplicaçãoterá de passar pela alteração do quadro legal em vigor. "Além disso, a avaliação experimental será um acto voluntário de cada docente, que não pode ser coagido a fazê-la por qualquer meio e, muito menos, ficarsujeito a penalização resultante de um eventual acto de recusa", acrescentou.
No encontro da passada sexta-feira com a tutela ficou ainda acordado que os docentes contratados, tal como os do quadro, não serão sujeitos a qualquer avaliação no ano lectivo 2007/2008, por não estar previsto no Estatuto da Carreira Docente da região.
Apesar de sublinhar que estes compromissos vão "ao encontro das reivindicações dos docentes", o dirigente sindical considerou que existem pontos importantes que"ainda não ficaram assentes". É o caso, segundo Armando Dutra, da penalização dotrabalhador-estudante, da avaliação anual na região, de alguns aspectos da grelha da avaliação e da sobrecarga no horário de trabalho dos professores.
"Já vamos conseguindo várias alterações aoEstatuto, para que se vá criando um clima favorável,mas não são suficientes", afirmou o presidente do sindicato, que realizará plenários em São Miguel e Terceira no início de Maio, para os quais serão convidados representantes dos partidos políticos para uma "reflexão conjunta" sobre o sector.

Fonte indicada: Lusa / AO online
Informação difundida na Lista Escola Pública <escola-publica@googlegroups.com> (18.03.2008), a quem agradecemos

Saber+? No youtube http://www.youtube.com/watch?v=dAVcaAtBi6s&eurl=http://www.spra.pt/

quarta-feira, 19 de março de 2008

As aulas de substituição davam uma grande discussão...


Um professor da Amadora escreveu uma extensa carta à Ministra da Educação que vale a pena ser lida na íntegra (Movimento Professores Revoltados). Discordo em alguns pontos. Simpatizo com outros, como este:

“Quero referir-me agora a uma das principais bandeiras da política do seu ministério – as aulas de substituição. Para o poderem ser, teria sido necessário proceder a uma avaliação séria do seu processo de implementação, o que me parece ainda não ter acontecido. Não sei se sabe mas, em muitas escolas, estas não existem para todas as situações de ausência de professores, por indisponibilidade de recursos humanos; numa parte considerável das mesmas não são trabalhadas questões da disciplina, apesar de obrigarem ao averbamento de faltas aos alunos na disciplina que têm em horário; para além de que uma parte considerável dos problemas de indisciplina que acontecem nas escolas, ocorrerem em aulas de substituição. Sr.ª Ministra, quando era aluno adorava ter “furos”, serviam para brincar, conviver e descontrair. Tive muitos, outros fi-los eu, e não fui, por isso, pior aluno, nem sinto que tenha tido maus professores, uma má escola e uma educação deficiente, antes pelo contrário. Quanto ao contributo das aulas de substituição para o sucesso escolar dos alunos, não existem, ainda, dados sólidos que o comprovem. Penso mesmo não existir uma correlação directa entre uma coisa e outra, porque em muitas delas não se exploram conteúdos programáticos, sendo apenas “entretidos” os alunos. Nesta perspectiva, é muito mais válido o processo de trocas entre professores para diminuir o absentismo docente e promover a aprendizagem.”

Pois é! A escola não são apenas aulas. A escola também deve ser o prazer do imprevisível. A democracia também se aprende no recreio, e às vezes há recreio a menos...

Miguel Reis

E esta avaliação...Para quê?

Sou Professor há 20 anos, com 100% de assiduidade, Licenciado em Filosofia, Mestrado em Ciências da Educação, área de Formação de Professores, com 10 anos a trabalhar em Formação Inicial (Orientação de Estágios com a Universidade Católica e com a Faculdade de Letras) e na Formação Contínua de Professores, investigador da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, com Artigos publicados e com participação em projectos internacionais (U.E.).
Como não participei em Órgãos de Gestão não tive acesso à Carreira de Titular (ainda bem). Mas ainda mal, porque agora vou ser avaliado por um colega com menos habilitações que eu, com qualificações reconhecidas, mas da área científica de História, ou seja, sem conhecimentos da Didáctica de Filosofia e de Psicologia e sem experiência de avaliação, porque nunca supervisionou professores na sua prática lectiva.

Na minha escola há um caso mais gritante: uma colega especialista em Avaliação (Mestrado em Ciências da Educação), Orientadora de Estágios e que vai ser avaliada por pessoas como menos habilitações e que desconhecem o processo de avaliação de professores.

Só uma pergunta: como vai ser a minha avaliação?
Outra pergunta: se esta Avaliação pretende o apurar o mérito dos Professores, como pode começar, logo no início do processo, por penalizar alguns “méritos”, a saber, aqueles que dizem respeito à qualificação académica e profissional?

Resta-me ter fé e esperar o melhor!

Testemunho de um professor, colocado como comentário a um dos nossos posts por
estórias de alhos vedros

Foto de Joaquim Farias em
Ferrao.org

Não querem ver, não querem ouvir, não respondem!


Foi assim o comportamento da Ministra da Educação ontem na Assembleia da República.

Um modelo de avaliação imprestável

Pertinente intervenção de Ana Drago, deputada do BE, confrontando directamente a Ministra da Educação no parlamento, durante uma interpelação parlamentar pedida pelo PCP. A Ministra não respondeu a quase nenhuma pergunta, viesse de que bancada viesse. Entrámos na política do autismo.



Os professores têm razão

Os professores não receiam ser avaliados. A avaliação é necessária, e sempre fomos avaliados, implícitamente pelos nossos alunos, e explícitamente pelos nossos pares para progredir na carreira. Portanto a novidade não é a avaliação mas sim como vamos ser avaliados, e este modelo turvo de avaliação, Senhora Ministra, não o esclarece.
Na reportagem da Maria Filomena Mónica, publicada na revista Sábado sobre a manifestação de professores do dia 8 de Março, a socióloga ao abordar o que considera o "pomo central da discórdia", a avaliação dos professores, afirma que "a competência pedagógica é uma qualidade que nenhuma grelha pode captar. Basta ler a peça The History Boys, do premiado Alan Bennet, para se ver o quão arbitrária é a avaliação dos professores. A agravar o problema, o organigrama proposto pelo Ministrério da Educação inspirado nos disparates que Valter Lemos apresentou no seu livros Critérios de Sucesso, é uma aberração(...). A 8 de Março de 2008, 100 mil docentes (dois em cada três) saíram de casa para declarar que não reconhecem à Ministra da Educação legitimidade para os julgar. Para mal dos nossos pecados têm razão"

Beatriz Dias

Fonte:
Revista Sábado, Nº 202, 13 a 18 de Março 2008

terça-feira, 18 de março de 2008

Excelente síntese da política deste ministério

Primeiro em imagens...

Cartoon de Said, publicado por ProfAvaliação


E agora em palavras...


“Desde a primeira hora que pressenti que as "reformas" deste governo relativamente aos professores tinham um duplo propósito interligado: controlar os professores e estrangular a progressão na carreira. Economicismo e controleirismo. O controlo foi e está a ser feito lançando medidas variadas de divisão dos professores: titulares; conteúdo funcional distinto; salários diferentes; etc. Isso era um objectivo instrumental pois permitia o economicismo mas tem também um fim em si: fazer dos professores indivíduos isolados, hierarquizados, fáceis de manipular. O economicismo sendo um objectivo em si, comporta também elementos instrumentais: pagando pouco a muitos e muito a poucos divide os profissionais de uma profissão que ao contrário de outras tem uma essência eminentemente horizontal nos níveis de ensino em que estamos a tratar.

A questão da "nova" gestão está evidentemente ligada a tudo o referido anteriormente: um chefe todo poderoso na escola, dependene dos caciques locais e do ME. Nos últimos dias, depois de semanas e semanas de trapalhadas, o governo acena aos professores com flexibilizações, autonomias à força, chantagens, bombons de créditos horários e de remunerações acrescidas para alguns.

Na minha escola, há indícios, eu direi há sintomas claros de que a democracia que existia e que nem sempre era aproveitada está a morrer.

Estes socialistas no governo são uma fraude. E proliferam pela babugem do que há de pior nos seres humanos e nos professores, como não podia deixar de ser: sede de pequenos poderes e de pequenas vinganças sem limitação; incapacidade de construir colectivamente as acções educativas; incompetências que não querem ser questionadas."

Professora que não identifico porque os pequenos ditadores andam de olho nela.
Por Ramiro Marques

segunda-feira, 17 de março de 2008

Vamos preencher agenda!

Ninguém tem dúvidas que o governo aposta muito nestas férias da páscoa. Para que a contestação acalme, para que a força se dissipe. Querem um regresso normalizado às escolas, no final de Março. E, efectivamente, olhando para o calendário das iniciativas de protesto, elas só têm verdadeira expressão a partir do dia 14 de Abril. Nós achamos que é muito tarde. Não podemos esperar tanto, sob pena de sermos cada vez menos os que sobram com forças para defender a escola pública.

Por isso o Movimento Escola Pública lança um desafio. Apelamos a todos os professores que, com criatividade e imaginação, inventem diversas formas de luta, simbólicas ou mais ambiciosas. Para já, lançamos aqui duas convocatórias, abertas a toda a população, e nas quais nos vamos empenhar a fundo:

- a dinamização de uma vigília/manifestação pela Escola Pública com concentração no Largo Camões, em Lisboa, no dia 4 de Abril, Sexta-feira, às 21h.
- a organização de uma assembleia pela Escola Pública em Setúbal, na primeira semana de aulas, aberta a todos os professores e cidadãos. Data concreta a confirmar ainda antes da Páscoa.

- o apelo a todos os membros do movimento escola pública (que estendemos a todos os professores) para que façam todo o possível para parar o processo de avaliação nas suas escolas, com propostas de tomadas de posição nesse sentido nos órgãos competentes, sem medos.

Antes do final das férias divulgaremos aqui outras acções em preparação noutras localidades do país e ajudaremos na divulgação de outras iniciativas que nos façam chegar.

Resta-nos sublinhar que queremos abrir estas iniciativas a toda a população.
Convidamos todas as pessoas interessadas em defender uma escola inclusiva, democrática e participada. Esta luta não é só dos professores mas sim de toda a sociedade.

Exigimos a suspensão da avaliação que enche as escolas de burocracia, a revogação do diploma de gestão que impõe um director à força, queremos uma carreira única de professor, o fim da prova de ingresso e a avaliação das instituições que formam professores, mas também turmas mais pequenas, equipas multidisciplinares para combater o insucesso escolar, o alargamento dos apoios ao nível do ensino especial, e políticas educativas capazes de responder ao desafio da diversidade cultural cada vez mais presente na escola

Isto é um assalto!

Enquanto as novas ondas de solidariedade se formam, importa não perder de vista a batalha que se aproxima: Exigimos a suspensão de todo o processo de avaliação. A nossa derrota seria do país inteiro.

Aparentemente indiferentes à manifestação de 8 de Março, o governo e o ministério da educação fazem ouvidos de mercador.

A sua aposta em manipular a opinião pública para nos paralisar, em liquidar-nos enquanto classe que preza o brio profissional, encontrou pela frente uma resposta categórica.

Ao pretenderem rebaixar os nossos salários em cerca de um terço, com a criação de uma subcategoria a que chamam não-titulares, revelaram que afinal o discurso do mérito e da necessidade de premiar os melhores não passava de um engodo para proceder a este autêntico assalto ao nosso bolso, criando impedimentos e quotas para que a grande maioria fique com um tecto salarial de uns 1.200 euros de salário líquido para uma carreira de 40 anos de trabalho.

Sabemos do mundo que nos rodeia. Os preços a aumentar, o estado social a ser demantelado, a insegurança social a contaminar o tecido social. Vemos passarem por nós milhares de jovens que cumprem o que lhes é exigido, chegam às universidades. E o que têm à sua espera? Desemprego, sucessivos estágios não-remunerados, 2,5 euros à hora nos call centers, salários de 400 e 500 euros por mês. Precariedade. Exploração violenta.

Por isso compreendemos que querem nivelar-nos por baixo, porque estão determinados em destruir a escola pública. Por este andar, a escola pública seria um depósito dos filhos e filhas dos mais carenciados, de quem não pode fugir para as privadas. A nossa profissão seria desprezada, o nosso saber considerado uma perda de tempo, a cultura geral, científica-técnica-artística-humanista, redundante. Seríamos uma mescla de técnicos de assistência social, guardas das novas gerações de excluídos, bombeiros para fogos de conflitos, mal-estar e revoltas em que a escola guetizada se transformaria. Uma classe desvalorizada numa escola para pobres.

Jaime Pinho, professor

A luta pela Escola Pública é mais ampla do que alguns querem fazer crer....




Obrigado André Agualva!

domingo, 16 de março de 2008

Esta avaliação é quase policial

Ana Benavente, ex-secretária de estado da educação do governo de António Guterres, que defendeu em Fevereiro passado a demissão da ministra da educação, dá uma entrevista ao “Semanário Económico” de 14 de Março, onde comenta o confronto entre os professore e o governo.

Apresentamos aqui o essencial das suas respostas.

Gota de água:
“A avaliação foi a gota de água que levou os professores a dizer que não podiam continuar com esta política”.

Batata quente:
“Com a anunciada flexibilidade da avaliação o ministério passou a batata quente para as escolas de modo a que elas se organizem para cumprir as ordens da 5 de Outubro”.

A força do poder:
“Deve haver uma avaliação integrada na escola. Há uma avaliação agora nas escolas, que pode ter falhas, mas que não é uma avaliação quantitativa, quase policial, como a que está prevista neste diploma. Se esta avaliação vingar, vingará pela força do poder, não da razão. Nesse sentido não vai ser um episódio feliz na vida das nossas escolas, que já estão cansadas de medidas que não têm continuidade”.

Repartição da 5 de Outubro:
“O ministério ainda não definiu a escola que quer. Se é uma escola-repartição da 5 de Outubro, em que tudo é definido centralmente, ou uma escola em que se avança para a autonomia. E o que entende o ministério por autonomia? Estas medidas não fazem sentido senão numa leitura que vê a escola cada vez mais burocratizada e os professores com reuniões sem fim a tentarem decifrar o que vem do ministério da educação. Uma discussão sobre a escola actual é essencial. Primeiro devemos decidir o que queremos fazer e depois seguir os objectivos”.

A não perder também a extensa entrevista de Mário Nogueira ao Correio da Manhã. Permite perceber muitos argumentos que os holofotes às vezes ofuscam.

sábado, 15 de março de 2008

A curva do túnel


No início havia uma luz ao fundo do túnel. Mas afinal o túnel parece ter uma curva que nunca mais acaba. O Ministério da Educação recua muito pouco, sem dizer que recua.

Sobre a gestão das escolas e a imposição do director, sobre o Estatuto da Carreira Docente, sobre as condições de trabalho de todos os professores nas escolas, sobre condições materiais e humanas para todos os alunos nas escolas, o Ministério não fala. Tudo isso é para ficar na mesma.
Sobre o modelo de avaliação, ele é inquestionável, defendem. Não há abébias para fazer experiências, repetem. Então onde está o recuo?

Apenas na rapidez com que o ministério quer aplicar este modelo de avaliação. Mas muito poucos acreditavam que a maioria dos professores pudesse ter concluída a sua avaliação já este ano lectivo. O Ministério apenas admitiu o óbvio.

Só que obriga 7 mil professores a serem avaliados à pressão, entre os quais estão os mais precários. Pior do que isso: quer dividir para reinar, permitindo às escolas “flexibilidade” na aplicação do modelo de avaliação. Significa que os Conselhos executivos mais papistas que o papa vão levar a coisa à risca, vão religiosamente aplicar o modelo do ministério. E quem se pode lixar são os professores contratados dessas escolas.

Tudo isto só serve para uma coisa: a ministra vai dizer que o período experimental de que falava Vitorino é o que se vai fazer já neste ano lectivo com sete mil cobaias. E vai acrescentar que correu tudo muito bem e que para o ano melhor correrá com os restantes 140 mil docentes.

Banha da cobra. O governo pretende abafar as milhares de vozes que protestaram nas ruas de Lisboa com um “vá...vocês vão ver que a avaliação não é um bicho de sete cabeças, sejam bem comportados e não queiram privilégios que mais nenhum funcionário tem”. E não se sente sequer obrigado a discutir políticas para a promoção da escola pública. E não se sente sequer obrigado a rever o militarismo das suas medidas, a burocracia com que inunda as escolas, ou o conformismo perante as turmas grandes, a falta de professores, a ausência de equipas multidisciplinares.

Há esperteza no Ministério. Mas há também força do lado dos professores. É preciso que ela se veja outra vez. De férias ou em reuniões de avaliações de alunos, os professores têm esta luta nas suas mãos. A ver vamos se rebentamos com o túnel para ver a luz do dia.

sexta-feira, 14 de março de 2008

E a Esperança? Continua?

“Dois vice-presidentes do Conselho Executivo do Agrupamento de Escolas Correia Mateus, em Leiria, demitiram-se quinta-feira depois da polémica relativa a uma grelha de avaliação de docentes, disse hoje fonte escolar”

Recordamos que a dita ficha de avaliação penalizava os docentes que "verbalizassem a sua insatisfação sobre o sistema educativo provocando instabilidade nos seus pares".

“Dos quatro elementos do Conselho Executivo, apenas a presidente, Esperança Barcelos, permanece em funções, uma situação que deverá ficar resolvida durante a próxima semana, com a nomeação de uma comissão provisória.”

E será que a dona Esperança fica na dita comissão provisória? Estará a preparar caminho para, como já afirmou, ser a primeira “super-directora” ao abrigo do novo modelo de gestão? Esperemos que não senhora Esperança!

Sem Medos!

Pequenos ditadores (por Ramiro Marques)

Há medo em algumas escolas. Há intimidação. Recebo e-mails todos os dias a testemunharem o ambiente de perseguição. Há conselhos executivos, presidentes de conselhos pedagógicos e coordenadoers de departamento (ainda que em escasso número) que copiam os tiques autoritários dos chefes. Colaboram activimente na política de silenciamento dos colegas mais incómodos, ameaçando-os com processos disciplinares caso haja divulgação pública do que se passa nas reuniões. Já recebi e-mails de professores, em pânico, a pedirem para eu retirar os seus depoimentos do blog. E eu retirei. É conveniente, por isso, que digam sempre se os depoimentos são para publicar ou para não publicar. Digam sempre, por favor, se posso identificar o autor e a escola ou se devo guardar o anonimato do autor.

Convém lembrar que, com excepção de questões relativas à avaliação dos alunos e procedimentos disciplinares sobre professores ou alunos, não existem segredos nas escolas. Não há dever de reserva sobre actas dos conselhos pedagógicos onde se discutam e tomem deliberações sobre questões de política educativa ou de aplicação de medidas de política educativa. Aliás, essas actas deviam ser todas publicadas nos websites das escolas. Num regime democrático, exige-se transparência e divulgação pública das tomadas de posição dos órgãos dos organismos públicos. É preciso ser firme e não ceder à intimidação exercida pelos pequenos ditadores.

A luta pela liberdade de expressão nas escolas, pela defesa da transparência e da divulgação pública dos actos é um combate interminável. Mais do que impor um processo de avaliação de desempenho que visa, fundamentalmente, avaliar 140000 professores a custo zero e que procura impedir que dois terços dos professores atinjam o topo da carreira, esta política repressiva pretende, sobretudo, acabar com a liberdade pedagógica e a liberdade de expressão nas escolas. Os pequenos ditadores que vegetam por aqui e por ali são os paus mandados dessa intenção.

Retirado de profavaliação e de RamiroMarques

Um olhar atento...

«Um sector gritante de extracção de mais valias de biopoder é o da Educação. Pela natureza do trabalho do professor (material e imaterial), é sempre possível fazer crer em que "modernizar" é igual a "gerir bem" igual a "ensinar bem". O que permite retirar o máximo da "modernização" em mais valias materiais e imateriais.

Por exemplo, a avaliação dos professores deve ser feita, mas os parâmetros impossíveis impostos pelo ministério, as aberrações nas exigências da assiduidade dos docentes, a quase impossibilidade de obter a nota máxima, as dificuldades extremas em subir na carreira, os estatuto dos avaliadores incompetentes na matéria avaliada, etc. - estão a empurrar os professores para o abandono da profissão e para a reforma antecipada.

A Educação sofre um massacre que provoca a fuga dos professores: não é isto um dos objectivos da "contenção", a redução do número dos docentes e dos custos da educação? A racionalidade necessária da avaliação esconde a outra racionalidade imposta pelo défice.

Nisto tudo, uma questão me intriga: porquê tanto ódio, tanto desprezo, tanto ressentimento contra a figura do professor?»

José Gil

Dizem que é uma espécie de Ministério da Educação…

100 mil na rua, mas para a ministra isso não é relevante.
Tem sido esta a postura do governo e deste ministério da “educação” desde que assumiu a pasta com o mesmo nome.

Num total desrespeito pela classe que está nas escolas – uns mais novos e ainda com um grande caminho a fazer, outros com muitos anos de carreira e já próximos da aposentação – a ministra da educação e os seus secretários de estado cortam a direito, lançando catadupas de diplomas, despachos, normativos sobre os/as professores/as, em que o traço comum é o derrubar o que está feito, o que vem de trás, como se tudo o que se fez não fosse nada ou pior, fosse para deitar borda fora, porque não presta. A revolta generalizada cresceu e os professores não se deixaram intimidar com as visitas da PSP às escolas para saber quantos iam à manif. Foram 100 mil, isto é, cerca de 70% da classe docente!^

Daí que fosse tão bem dado o nome à mobilização do professorado nacional: Marcha da Indignação. Uma indignação que se mostrou naquele sábado em Lisboa, com a marca da diversidade, da unidade, da imaginação, da criatividade e da determinação em não baixar os braços.

Silenciosa e sozinha na Curia, a ministra ficou indiferente. Como só pode ficar indiferente quem perdeu o sentido da realidade; quem, governando fortalecido com uma maioria absoluta, perdeu o sentido da democracia e do diálogo; quem não estando nas escolas, desconhece o profundo mal-estar de quem aí trabalha. Uma ministra que está cada vez mais identificada com Sócrates, aquele que todos os dias aparece, sozinho, num palanque, falando dum mundo virtual. Para quem tanto fala dum governo com sensibilidade social, estamos conversados!

Neste jogo de forças que tem oposto o governo/ministério e o professorado algumas figuras têm vindo a terreiro. Umas pelas piores razões – o ministro Augusto Santos Silva, Albino Almeida da CONFAP desejoso de prestar vassalagem a quem lhe financia os seus interesses (150 mil euros ano!); Emídio Rangel para quem os professores manifestantes não passam de pseudo-professores, hooligans, comunistas, gente que trabalha pouco e ensina menos… Do outro lado, gente de todos os partidos, sem partido, membros do PS, Ana Benavente, o cardeal patriarca de Lisboa para quem “os professores e educadores deste país são um grupo decisivo para o futuro do país, por ventura mais decisivo que os políticos, que os técnicos e os financeiros”.

Estamos no pós-Marcha da Indignação com outra força, outra alegria que descobrimos, alguns pela primeira vez. Andamos de luto nas escolas, mas falamos alto do que nos vai na alma, já sem medo, porque descobrimos que afinal somos muitos que não toleramos esta avaliação persecutória e esquizofrénica; que sabemos que temos de ganhar novos aliados – os pais e encarregados de educação, os alunos – todos os que estão preocupados com o futuro do ensino público deste país, em risco com este tsunami legislativo que tudo arrasa.

Percebendo que perdeu o pé, o ministério desdobra-se em declarações contraditórias, tentando adocicar uma política que deseja minar os fundamentos da escola pública. Mas os professores descobriram que conseguem estar unidos no essencial e que são uma força poderosa, alicerce e fundamento da Escola Pública, um dos esteios da democracia. No passado dia 8 de Março, na rua, 100 mil professores e professoras fizeram a mais inequívoca moção de censura a esta política educativa.

Março 2008
Almerinda Bento (publicado no Comércio do Seixal)