Enquanto as novas ondas de solidariedade se formam, importa não perder de vista a batalha que se aproxima: Exigimos a suspensão de todo o processo de avaliação. A nossa derrota seria do país inteiro.
Aparentemente indiferentes à manifestação de 8 de Março, o governo e o ministério da educação fazem ouvidos de mercador.
A sua aposta em manipular a opinião pública para nos paralisar, em liquidar-nos enquanto classe que preza o brio profissional, encontrou pela frente uma resposta categórica.
Ao pretenderem rebaixar os nossos salários em cerca de um terço, com a criação de uma subcategoria a que chamam não-titulares, revelaram que afinal o discurso do mérito e da necessidade de premiar os melhores não passava de um engodo para proceder a este autêntico assalto ao nosso bolso, criando impedimentos e quotas para que a grande maioria fique com um tecto salarial de uns 1.200 euros de salário líquido para uma carreira de 40 anos de trabalho.
Sabemos do mundo que nos rodeia. Os preços a aumentar, o estado social a ser demantelado, a insegurança social a contaminar o tecido social. Vemos passarem por nós milhares de jovens que cumprem o que lhes é exigido, chegam às universidades. E o que têm à sua espera? Desemprego, sucessivos estágios não-remunerados, 2,5 euros à hora nos call centers, salários de 400 e 500 euros por mês. Precariedade. Exploração violenta.
Por isso compreendemos que querem nivelar-nos por baixo, porque estão determinados em destruir a escola pública. Por este andar, a escola pública seria um depósito dos filhos e filhas dos mais carenciados, de quem não pode fugir para as privadas. A nossa profissão seria desprezada, o nosso saber considerado uma perda de tempo, a cultura geral, científica-técnica-artística-humanista, redundante. Seríamos uma mescla de técnicos de assistência social, guardas das novas gerações de excluídos, bombeiros para fogos de conflitos, mal-estar e revoltas em que a escola guetizada se transformaria. Uma classe desvalorizada numa escola para pobres.
Jaime Pinho, professor
segunda-feira, 17 de março de 2008
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3 comentários:
Que todo o processo de avaliação seja suspenso!
Desafio alguém a encontrar em toda a Europa um modelo de Avaliação como o português! Não existe! Porquê um sistema injusto e inadequado como este?
É tempo de repensar tudo e reconstruir um modelo que sirva a Escola pública.
Inconsistências da Avaliação de Professores
Contra o Concurso de Titulares:
Parabéns pela mobilização dos professores conseguida no dia 8 Março. Eu também lá estive! Foi extraordinário. Penso que agora se deve rentabilizar este capital humano que esteve em luta. Mais do que REFORMULAR este processo de avaliação, é preciso conseguir a sua ANULAÇÃO. Há demasiados problemas neste processo de avaliação, a começar pelo Concurso de TITULARES. Vejam o meu caso que será o de muita gente e depois de o lerem tentem pensar como me sinto nesta profissão.
Sou Professor há 20 anos, com 100% de assiduidade, Licenciado em Filosofia, Mestrado em Ciências da Educação, área de Formação de Professores, com 10 anos a trabalhar em Formação Inicial (Orientação de Estágios com a Universidade Católica e com a Faculdade de Letras) e na Formação Contínua de Professores, investigador da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, com Artigos publicados e com participação em projectos internacionais (U.E.). Como não participei em Órgãos de Gestão não tive acesso à Carreira de Titular (ainda bem). Mas ainda mal, porque agora vou ser avaliado por um colega com menos habilitações que eu, com qualificações reconhecidas, mas da área científica de História, ou seja, sem conhecimentos da Didáctica de Filosofia e de Psicologia e sem experiência de avaliação, porque nunca supervisionou professores na sua prática lectiva.
Na minha escola há um caso mais gritante: uma colega especialista em Avaliação (Mestrado em Ciências da Educação), Orientadora de Estágios e que vai ser avaliada por pessoas como menos habilitações e que desconhecem o processo de avaliação de professores.
Só uma pergunta: como vai ser a minha avaliação?
Outra pergunta: se esta Avaliação pretende o apurar o mérito dos Professores, como pode começar, logo no início do processo, por penalizar alguns “méritos”, a saber, aqueles que dizem respeito à qualificação académica e profissional.
Resta-me ter fé e esperar o melhor!
Caro "estórias de Alhos vedros":
O seu relato é impressionante e mostra bem a injustiça deste sistema de avaliação. Se não se importar publicaremos, mas gostávamos que assinasse...
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