quarta-feira, 12 de março de 2008

Em cada rosto igualdade


Só descansaremos quando desistirem de nos cortarem em pedaços, e aceitarem que “carreira há só uma, a de professor e mais nenhuma”.

A manifestação de 8 de Março surpreendeu muita gente. Afinal as escolas estão nas mãos daquela multidão! Quem pode apresentar melhores credenciais? Que outras, que melhores mãos poderia haver?

Como não haveremos de exigir tudo o que nos faz falta?

O governo e a sua máquina, os seus aliados, atreveram-se a chafurdar nas dificuldades sentidas nos nossos locais de trabalho, a explorar a nossa impossibilidade de fazer melhor com as regras e os preconceitos salazarentos que administrativamente nos impõem, a manipular as nossas angústias por ser tão difícil recuperar do atraso. Deliberadamente não nos querem ajudar, proporcionar-nos formação e avaliação à altura da crise.

Preferiram jogar no apodrecimento da situação e irresponsavelmente tentaram jogar o ódio contra os professores.

O sistema de ensino está sob escrutínio da população e ainda bem.
São dois milhões de pobres que nos confiam os seus filhos e filhas. Gerações sucessivas que foram excluídas da escolaridade básica e não podem, não conseguem dar toda a ajuda necessária. E depois? Quem são os responsáveis pela pobreza e exclusão escolar e cultural, pelo falhanço das políticas na educação?

Nós cumprimos com o nosso dever. Não enjeitamos o esforço, a formação, sabemos aprender com a camaradagem e o trabalho em equipa, com as críticas que nos fazem todos os dias.
Ainda bem que se começa a saber tudo.

Por isso só descansaremos quando formos tratados como os nossos colegas da Madeira e Açores, ou seja:
- não nos for exigido mais um (mais um!) “exame probatório” para ingressar na carreira
- quando desistirem de nos cortarem em pedaços, e aceitarem que “carreira há só uma, a de professor e mais nenhuma”.
- quando abandonarem as quotas para o escalão máximo numa carreira, numa vida, de 40 anos de desempenho.

Para vencer o atraso que criaram e lançam sobre nós, todos e todas só podemos ser, cada dia, melhores profissionais. Bons profissionais. Só queremos ser bons. Porque para eles, excelente “só na Universidade Independente”.

Jaime Pinho

(a fotografia é do blogue "Defende a profissão")

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