Pequenos ditadores (por Ramiro Marques)
Há medo em algumas escolas. Há intimidação. Recebo e-mails todos os dias a testemunharem o ambiente de perseguição. Há conselhos executivos, presidentes de conselhos pedagógicos e coordenadoers de departamento (ainda que em escasso número) que copiam os tiques autoritários dos chefes. Colaboram activimente na política de silenciamento dos colegas mais incómodos, ameaçando-os com processos disciplinares caso haja divulgação pública do que se passa nas reuniões. Já recebi e-mails de professores, em pânico, a pedirem para eu retirar os seus depoimentos do blog. E eu retirei. É conveniente, por isso, que digam sempre se os depoimentos são para publicar ou para não publicar. Digam sempre, por favor, se posso identificar o autor e a escola ou se devo guardar o anonimato do autor.
Convém lembrar que, com excepção de questões relativas à avaliação dos alunos e procedimentos disciplinares sobre professores ou alunos, não existem segredos nas escolas. Não há dever de reserva sobre actas dos conselhos pedagógicos onde se discutam e tomem deliberações sobre questões de política educativa ou de aplicação de medidas de política educativa. Aliás, essas actas deviam ser todas publicadas nos websites das escolas. Num regime democrático, exige-se transparência e divulgação pública das tomadas de posição dos órgãos dos organismos públicos. É preciso ser firme e não ceder à intimidação exercida pelos pequenos ditadores.
A luta pela liberdade de expressão nas escolas, pela defesa da transparência e da divulgação pública dos actos é um combate interminável. Mais do que impor um processo de avaliação de desempenho que visa, fundamentalmente, avaliar 140000 professores a custo zero e que procura impedir que dois terços dos professores atinjam o topo da carreira, esta política repressiva pretende, sobretudo, acabar com a liberdade pedagógica e a liberdade de expressão nas escolas. Os pequenos ditadores que vegetam por aqui e por ali são os paus mandados dessa intenção.
Retirado de profavaliação e de RamiroMarques
sexta-feira, 14 de março de 2008
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2 comentários:
O melhor que este blogue tem é não permitir comentários anónimos!
Ninguém deve ter medo de emitir opinião, de divulgar informação não classificada.
O medo é uma arma!
...e a nossa deve ser a de «meter medo ao medo» - mas o medo é algo que voltou a reinar neste país desde há 3 anos - e compreende-se.O desemprego não para de crescer...
no outro tempo,anterior a 1974,era mais difícil resistir - a informa
ção chegava a poucos, mais ou menos clandestinamente,pela intervenção da censura e da Pide - agora os governos eleitos não podem, para já, vedar o acesso à net e aos SMS...mas,atenção: isso já é feito em países como a China ou Cuba, em que só os altos funcionários têm acesso à net...e creio que à televisão por cabo.
Eu não cederei à tentação de calar a indignação de ver o país mergulhar cada vez mais na austera, apagada e vil tristeza - a mesma que levava António Ferreira, em tempo de inquisição, a confessar «A medo vivo, a medo escrevo e falo;
Hei medo do que falo só comigo;
Mas inda a medo cuido, a medo calo.»
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