sábado, 15 de março de 2008

A curva do túnel


No início havia uma luz ao fundo do túnel. Mas afinal o túnel parece ter uma curva que nunca mais acaba. O Ministério da Educação recua muito pouco, sem dizer que recua.

Sobre a gestão das escolas e a imposição do director, sobre o Estatuto da Carreira Docente, sobre as condições de trabalho de todos os professores nas escolas, sobre condições materiais e humanas para todos os alunos nas escolas, o Ministério não fala. Tudo isso é para ficar na mesma.
Sobre o modelo de avaliação, ele é inquestionável, defendem. Não há abébias para fazer experiências, repetem. Então onde está o recuo?

Apenas na rapidez com que o ministério quer aplicar este modelo de avaliação. Mas muito poucos acreditavam que a maioria dos professores pudesse ter concluída a sua avaliação já este ano lectivo. O Ministério apenas admitiu o óbvio.

Só que obriga 7 mil professores a serem avaliados à pressão, entre os quais estão os mais precários. Pior do que isso: quer dividir para reinar, permitindo às escolas “flexibilidade” na aplicação do modelo de avaliação. Significa que os Conselhos executivos mais papistas que o papa vão levar a coisa à risca, vão religiosamente aplicar o modelo do ministério. E quem se pode lixar são os professores contratados dessas escolas.

Tudo isto só serve para uma coisa: a ministra vai dizer que o período experimental de que falava Vitorino é o que se vai fazer já neste ano lectivo com sete mil cobaias. E vai acrescentar que correu tudo muito bem e que para o ano melhor correrá com os restantes 140 mil docentes.

Banha da cobra. O governo pretende abafar as milhares de vozes que protestaram nas ruas de Lisboa com um “vá...vocês vão ver que a avaliação não é um bicho de sete cabeças, sejam bem comportados e não queiram privilégios que mais nenhum funcionário tem”. E não se sente sequer obrigado a discutir políticas para a promoção da escola pública. E não se sente sequer obrigado a rever o militarismo das suas medidas, a burocracia com que inunda as escolas, ou o conformismo perante as turmas grandes, a falta de professores, a ausência de equipas multidisciplinares.

Há esperteza no Ministério. Mas há também força do lado dos professores. É preciso que ela se veja outra vez. De férias ou em reuniões de avaliações de alunos, os professores têm esta luta nas suas mãos. A ver vamos se rebentamos com o túnel para ver a luz do dia.

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