quarta-feira, 26 de março de 2008

Autoridade pedagógica e sabedoria ética

A autora destas linhas profissionalizou-se na função docente num tempo marcado pelo espírito de revolta em relação a todas as formas de autoridade. Um tempo de rupturas extraordinárias, sedento de novidade e profundamente crente nas mais ambiciosas promessas de futuro. Mas, paradoxalmente, um tempo obsessivo em relação à fruição do presente.

Éramos jovens, queríamos o mundo e queríamo-lo sem demoras ou concessões. Radicalizando o apelo de Bachelard, entendíamos que cada um deveria saber tornar-se em «Prometeu de si-mesmo» num mundo com muitos direitos e poucos deveres, sendo que um deles, o mais fundamental, dizia respeito ao compromisso para com o próprio bem-estar. A vida era olhada como um crédito imenso, tudo era possível, tudo era permitido. Palavras como obediência, esforço, tacteamento, paciência ou disciplina, perdiam sentido em dias que eram, sempre, primeiros dias. E não éramos só nós, era o mundo todo que tumultuava em estado de juventude.


Que significado tem reclamar agora o respeito pela autoridade daquele que ensina – o educador professor? Será que, porque nos fomos fazendo menos novos, acabámos por capitular perante as exigências autoritárias e conservadoras do passado?


Assumindo convictamente a autoridade como um valor pedagógico e, nessa medida, como eixo de identidade profissional docente, retomo a «lição» desse tempo jovem, solidário, ingénuo e incrivelmente generoso, para sublinhar as competências que, a meu ver, evidenciam a sabedoria ética dos professores.


Competências como hospitalidade, responsabilidade e bondade. Hospitalidade entendida como capacidade de abertura, de escuta e de relação, como disposição para acolher a diferença misteriosa testemunhada por outro ser humano e a partir da qual se desenvolve uma responsabilidade profissional activa. Uma responsabilidade que, ao ser também investida pelo poder subversivo da bondade, deve ser vivida num contexto de sensibilidade, diálogo, atenção e cuidado. Uma responsabilidade afirmada, portanto, como autoridade sem autoritarismo. Neste sentido, vejo a autoridade numa lógica de proximidade pessoal e não de distância ou incomunicação, como acontecia outrora.

É aqui que situo a herança preciosa da chamada «não-directividade». Valores como empatia, congruência, consideração positiva, os princípios basilares da corrente anti-autoritária defendida por Carl Rogers, mantêm toda a sua pertinência no âmbito de uma pedagogia que desejamos centrada na aprendizagem. (...)

Isabel Baptista, Abril de 2005, publicado em “a página da educação”.
Lê aqui o artigo na íntegra.

1 comentário:

Setora disse...

Devo ser um pouco mais velha que a Isabel. Nunca me deu para esse compromisso primordial com o meu bem-estar e tive sempre uma enorme paciência.
Quanto ao resto estou em absoluto acordo. É o que faz sentido.Se não formos por aí, caminhamos para o desastre.