quarta-feira, 19 de março de 2008

As aulas de substituição davam uma grande discussão...


Um professor da Amadora escreveu uma extensa carta à Ministra da Educação que vale a pena ser lida na íntegra (Movimento Professores Revoltados). Discordo em alguns pontos. Simpatizo com outros, como este:

“Quero referir-me agora a uma das principais bandeiras da política do seu ministério – as aulas de substituição. Para o poderem ser, teria sido necessário proceder a uma avaliação séria do seu processo de implementação, o que me parece ainda não ter acontecido. Não sei se sabe mas, em muitas escolas, estas não existem para todas as situações de ausência de professores, por indisponibilidade de recursos humanos; numa parte considerável das mesmas não são trabalhadas questões da disciplina, apesar de obrigarem ao averbamento de faltas aos alunos na disciplina que têm em horário; para além de que uma parte considerável dos problemas de indisciplina que acontecem nas escolas, ocorrerem em aulas de substituição. Sr.ª Ministra, quando era aluno adorava ter “furos”, serviam para brincar, conviver e descontrair. Tive muitos, outros fi-los eu, e não fui, por isso, pior aluno, nem sinto que tenha tido maus professores, uma má escola e uma educação deficiente, antes pelo contrário. Quanto ao contributo das aulas de substituição para o sucesso escolar dos alunos, não existem, ainda, dados sólidos que o comprovem. Penso mesmo não existir uma correlação directa entre uma coisa e outra, porque em muitas delas não se exploram conteúdos programáticos, sendo apenas “entretidos” os alunos. Nesta perspectiva, é muito mais válido o processo de trocas entre professores para diminuir o absentismo docente e promover a aprendizagem.”

Pois é! A escola não são apenas aulas. A escola também deve ser o prazer do imprevisível. A democracia também se aprende no recreio, e às vezes há recreio a menos...

Miguel Reis

2 comentários:

Trabalhador da Silva disse...

Gosta que comentassem...
"Na sequência dos combates dos últimos tempos, a propósito da reforma da educação, reparemos que enquanto em Portugal se discute o processo de avaliação do desempenho dos professores em França as greves, e manifestações, são contra o despedimento de professores. Em Portugal o governo resolveu a questão da colocação dos professores (na sua maior parte) fixando-os por um período de três anos nas escolas a que ficam afectos. É a ansiada estabilidade do corpo docente – uma velha reivindicação da classe - que hoje foi esquecida pelos críticos do governo. Aqui ninguém fala em despedimentos de professores, pelo contrário, parece haver um compromisso firme do governo em não incluir os professores no chamado quadro de excedentes. É a ansiada estabilidade do corpo docente que, paradoxalmente, parece não revelar mais do que pérfidas intenções do governo em denegrir a imagem dos professores.

Movimento Escola Pública disse...

Não sei o que tem a ver com os recreios. Em Portugal, já houve despedimentos de professores. Nem todos estão colocados, embora de facto, os que encontraram colocação em 2006 só em 2009 terão concurso que lhes altere a localização (casos de mobilidade) ou a contratação (caso dos porfessores contratados, ou dos que venham a conmfigurar situações de excedentes - apenas em 2009 o verificaremos, resta saber se antes ou depois das eleições).
A estabilidade da colocação por 3 anos é positiva. Embora não universal, como se comprovará em 2009.
Digo da colocação e não do corpo docente, pois, como é evidente, mesmo colocados no mesmo lugar por 3 anos, tem o corpo docente ido abalado nos últimos dois com medidas que alteram significativamente as suas condições de carreira e de trabalho quotidiano. Mesmo que queria entender estas medias como positivas, decerto concorda que não são exactamente focalizadas na estabilidade, antes provocando inquietações, ansiedades e sobretudo uma imensa fadiga e muita perturbação.
Mas vejamos a generalizada promessa " professores nos excedentes, nunca!".
Existem já professores que, por terem deixado de reunir condições de saúde para o exercício das funções docentes, configuram situações de mobilidade dentro da administração pública (se houver lugar).
Último ponto: as pérfidas intenções do governo. Perfídia, presunção e água benta, cada qual tome a que quer, é caso para dizer.
A estratégia de revelar inflexibilidade face a um estereótipo NEGATIVO de professor do ensino público (sempre mais fácil usar o estereotipo... sempre mais apelativo usar o negativo para sobressair)foi uma estratégia de comunicação do governo, ou uma prática de comunicação para que foi "empurrado" pelas suas circunstâncias - a democaracia torna sempre necessário encarar as circunstâncias, uma maçada...? Não sei.
O caso é que tanto na opinião pública como na opinião de muitos docentes, ela foi impressiva. Caso para pensar porquê, e reflectir.
A não ser que se prefiram teorias da conspiração, mais cómodas no primeiro passo, embora geralmente limitadoras de qualquer caminhada.
Haja liberdade de pensamento e de expressão. Capacidade de aprender e de inflectir. Ou é esperar demais?