sábado, 8 de março de 2008

Um mar de professoras e professores


















Fotos de André Beja
podem ser utilizadas, mas agradece-se a referência ao autor

6 comentários:

menagerie disse...

É evidente que a ministra tem graves problemas de português: acha que as reformas se fazem "contra", e não "com" as pessoas. E de matemática: 100.000 indivíduos é um número irrelevante.
É evidente também que os sindicatos foram ultrapassados pelo movimento cívico. E ainda que as coisas não vão ficar por aqui.
Ao ver a «manif», onde não pude ir, lembrei-me não das manifestações do PREC, mas das outras, em que se atirava areia para os olhos dos cavalos da GNR. Da capela do Rato. Disse a um amigo: «Isto é a Maria da Fonte».
Também é evidente que os governantes devem estar feitos baratas tontas, a telefonarem-se aflitos, a tentar abafar a situação até conseguirem descobrir o que fazer. Vão mandando a ministra - que até foi ao cabeleireiro - acabar de se crucificar em monólogos televisivos. A cumprir com a definição de "arrogante": o estúpido que julga que sabe e não quer aprender.

Fliscorno disse...

Enviar para o mail seria complicado, pois fiz muitas, Mas estão disponíveis no Fliscorno.

Maria José Vitorino disse...

Os professores conseguiram ontem, sem necessidade de texto único assinado em negociações, demonstrar a todos nós (professores e não professores, nacionais e não portugueses) coisas fundamentais: a liberdade pratica-se, o coração e a cabeça podem agir em conjunto, a diferença não empata a acção, se for centrada no essencial.
Fizeram, de facto, um luto. O luto de formas conhecidas de impotência e baixa auto-estima, que nas escolas e nas vidas de todos nós bem conhecemos. Espero que fiquem bem enterradas.
Nesse sentido, o luto aplica-se, exactamente como antidoto do outro luto, o choramingueiro e empatador.
Com que linhas iremos agora desenhar o que se segue a este momento histórico?
Por mim, gosto da expressão linha de acção, porque contém linha de pensamento que assume a transformação. Confio na criatividade de homens e mulheres livres, que nestas imagens de 100.000 pesssoas de todas idades, expostas serenas e firmes na rua, encontram alento para tentar, arriscar, comprometer-se e assumir a sua parte da coisa pública.
Já agora, parabéns ao blog, ao movimento, ao André Beja e à sua máquina, e a todos nós.
A gente vai-se vendo por @í. A começar hoje (já começou, como uma volta em blogosfera vos prova facilmente). Dentro e fora das escolas, que a educação é futuro, e o futuro (quela coisa do aonde é que isto vai parar...) é assunto sério e comum a TODA A GENTE.

Anónimo disse...

Bom dia!

Façamos ligações a nível local, para nos coordenarmos melhor entre escolas da mesma área! isto não pode parar!
isto não vai parar por aqui!
São as políticas que t~em de mudar e já!
temos de ficar vacinados contra o autoritarismo do poder e o melhor método (ou antídoto) é fazermos a nossa auto-organização das lutas!!

Slidariedade
Manuel Baptista
(podem escrever-me para
manuelbap@yahoo.com)

Psikus disse...

Hoje escrevi assim no meu blogue (http://fernandonaescola.blogspot.com/):

O interesse dos alunos

"[...] Já antes, em entrevista ao Expresso, Maria de Lurdes Rodrigues tinha garantido "continuar sempre disponível para conversar, ouvir e resolver problemas, incluindo com os sindicatos", embora reconheça que entre o ministério e as forças sindicais existam normalmente pontos de partida muito diferentes. Mais, a ministra da Educação admite mesmo que se lhe perguntarem "se tenho esperança de que os sindicatos possam definir uma política educativa em que prevaleçam os interesses dos alunos, não tenho"."MÁRCIO CANDOSO e PEDRO VILELA MARQUES
Acaba assim uma notícia da edição on line do Diário de Notícias, publicada hoje certamente na sequência directa da Manifestação dos Professores de ontem, em Lisboa, e da entrevista que, à noite, a Senhora Ministra da Educação deu à SIC.
Sendo correcta e justa a citação destacada pelos jornalistas, pessoalmente considero que as palavras da Senhora Ministra sobre a posição dos sindicatos e "os interesses dos alunos" são pura demagogia, são imorais e resultantes de intenções desonestas e eticamente reprováveis. A Senhora Ministra recorre a um argumento, a uma imagem de forte impacto social que, mais uma vez, tem implícita uma ideia que, no meu entender, constitui o pecado original da Ministra da Educação: que os professores são essencialmente maus, egoístas, apenas preocupados com interesses pessoais acomodados, que tratam os alunos de forma despersonalizada, movidos apenas por razões mercantis.
É a chantagem, é o agitar do papão do "superior interesse das crianças", "os homens e mulheres de amanhã", "indefesos nas mãos de quem tem a faca e o queijo na mão para os avaliar", "coitadas das crianças!..."
A Senhora Ministra sabe claramente que, pela própria natureza dos diplomas ministeriais presentemente em discussão, não são "os interesses dos alunos" que estão em causa. A Senhora Ministra sabe, porque o tem afirmado constantemente, que o que está em causa é pedir aos professores "muitos sacrifícios", tal como para a generalidade do povo português. Aceito, é legítimo, não está em discussão. Não irei agora por aí.
A Senhora Ministra da Educação sabe que defender os interesses dos alunos implica, antes de mais, garantir, entre outras coisas, que os professores se encontrem tranquilos, disponíveis para o ensino e a relação pedagógica com os seus alunos; disponham de tempo para os professores troquem impressões e experiências para melhorar as aulas, os procedimentos pedagógicos, as dinâmicas de sala de aula, a resolução de problemas de indisciplina e a gestão de conflitos; que os professores mais novos possam beneficiar da experiência dos professores mais velhos. A Senhora Ministra sabe que a generalidade dos professores, que cuidam dos alunos com o respeito e o cuidado com que cuidam os seus próprios filhos, estão sempre prontos e disponíveis para "fazerem das tripas coração", sem que quem quer que seja mande que assim façam. Basta que reconheçam a sua necessidade. É tão fácil que isso aconteça com o professor português, que tem o coração sempre muito perto da boca e do pensamento.
Por isso, mais uma vez, no meu entender, com o que insinua desonestamente acerca da atitude dos sindicatos (que, quer queira quer não queira, são representantes legítimos dos professores; e são uma das manifestações sociais mais representativas dos regimes democráticos. E eu não sou professor sindicalizado; e sou muito crítico em relação às actuações da generalidade dos sindicatos que representam a minha classe profissional), a Senhora Ministra toca maldosamente no pouco que resta (porque muito, entretanto, já tirou) da dignidade de professor.
Sejam os professores - sejamos nós, todos os professores - capazes, mais uma vez, de fazer das tripas coração e lidar com mais esta adversidade. A bem da nossa dignidade pessoal, a bem do valor social da nossa profissão, que exige respeito humano e prazer de ensinar e aprender, hora a hora, nas aulas.
Quanto aos interesses dos alunos, seja: a cada um (a Assembleia da República, o Ministério da Educação, os Pais, Outros e os Professores; os próprios Alunos) o que lhe cabe. Com discrição, honestamente, sem bandeiras moralmente e eticamente chantagistas, reprováveis.

Psikus disse...

Escrevi também assim, hoje:
O despotismo esclarecido

Se um dia um aluno me perguntasse o que é o despotismo esclarecido, eu dir-lhe-ia qualquer coisa assim:
Bem... despotismo esclarecido é, se calhar, aquilo que a nossa Ministra da Educação pensa que é ou que está a fazer. É pensar que é boa pessoa, que sabe o que é bom para os outros; e pensar que mais ninguém sabe, só ela é que sabe, por isso tem de decidir tudo sozinha. E pensa que não há problema nenhum porque ela acredita piamente que sabe - sabe tudo! - e que é boa pessoa. Os outros é que não sabem. Já viste as vezes que a Senhora Ministra da Educação já disse "Os professores não sabem do que estão a falar"?...
E se depois o aluno me perguntasse se, como a pessoa é boa (ou, pelo menos, pensa que é boa), o despotismo escolarecido é uma coisa boa, eu talvez lhe respondesse desta maneira:
Não sei se a questão é o despotismo esclarecido ser uma coisa boa, ou não. A questão é saber se qualquer forma de despotismo esclarecido é legítima nos regimes políticos democráticos actuais. Será que o despotismo esclarecido é capaz de estimular o desenvolvimento dos comportamentos políticos amadurecidos dos cidadãos?...