sexta-feira, 28 de março de 2008

Protesto contra o modelo e o processo de Avaliação dos Docentes

ESCOLA SECUNDÁRIA DE BOCAGE
Setúbal

Face ao absurdo de que se revestem o modelo e o processo de avaliação dos
docentes que o Ministério da Educação teima em implementar, os Coordenadores de
todos os Departamentos e outras substruturas da Escola Secundária de Bocage, em
Setúbal, com assento no Conselho Pedagógico, transmitindo o sentir da grande maioria
do corpo docente, juntam a sua ao coro das inúmeras vozes de protesto, representativas
de escolas, de substruturas escolares, ou de pareceres individuais, que, com a
honestidade profissional e a validade argumentativa de quem sabe o que é ser Professor,
salientam:
1. O afã da implementação do modelo, sem tempo para uma preparação séria,
reflectida e criteriosa.
2. A imposição da sua execução quando o próprio Ministério ainda não
disponibilizou muitos e importantes suportes inerentes ao processo e consignados no
Decreto Regulamentar nº 2/2008 de 10 de Janeiro, nomeadamente nos seus artigos 6º,
20º, 21º e 29º.
3. A tentativa de dar resposta ao artigo 6º nomeando uma presidente para um
órgão não constituído, a qual emitiu recomendações, umas e outra de validade jurídica
duvidosa porquanto geradoras de providências cautelares.
4. O sangramento das energias dos Professores e do seu verdadeiro mister numa
burocracia desmedida, obrigados que ficam ao cumprimento de incontáveis horas além
das que a lei geral do trabalho lhes impõe, em desrespeito de direitos elementares; e, por
via disso, com o mais que certo prejuízo na preparação das actividades lectivas e, logo,
o também mais que certo reflexo negativo no bem-estar afectivo, emocional e social.
5. A falta de lisura no processo, porquanto o docente será também avaliado por
uma qualidade para a qual, a curto prazo, lhe será mais difícil trabalhar.
6. A preocupante carência de centros de formação que dêem resposta adequada
às necessidades de todos os docentes, a quem se exige, simultânea mas paradoxalmente,
certificados com aproveitamento de acções para poderem progredir na carreira (ou seja,
“Tens de fazer, embora não tenhas onde”). A não ser que o Professor se prontifique a
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pagar do seu próprio bolso uma formação cujo ónus deve caber exclusivamente à
entidade empregadora, já que se pretende que as escolas tenham uma dinâmica
empresarial.
7. O perigo ético, que deriva da ausência de uma formação em avaliação de
desempenho e supervisão pedagógica para os Coordenadores de Departamento,
enquanto avaliadores.
8. As falhas técnicas na concepção das grelhas de avaliação, dificultando a sua
operacionalização.
9. A total subversão dos valores educativos e da formação integral do indivíduo,
com o rosto do controle da qualidade, e em prol das estatísticas, ao fazer depender a
avaliação dos docentes dos resultados da avaliação dos seus alunos, quando é certo que
nesses resultados influem muitos factores que os Professores não podem de modo
algum controlar. Conviria que os que nos tutelam percebessem que, perante turmas
diferentes, o mesmo Professor obtém resultados diferentes. Está na lógica. O que muda,
a cada bloco de noventa minutos, não é a qualidade do Professor, permanentemente à
prova de adaptação a novas realidades-turmas. Questione-se a tutela sobre a sua quota
de responsabilidade relativamente a desajustamentos e extensão de programas; ou sobre
as reais condições de trabalho de muitíssimas escolas. E a avaliação será muito mais
fiável e idónea.
Mais haveria a salientar. E desta espécie de alucinação em que estamos
mergulhados, uma evidência importa relembrar, entre todas: os erros que se cometem
em política educativa, a golpes de legislação, não se corrigem de imediato com
decretos; antes marcam indelevelmente uma geração, com repercussões que se
propagam em exponencial. Quem assumirá a responsabilidade do erro terrível que está a
cometer-se na educação portuguesa?
Escola Secundária de Bocage, 27 de Fevereiro de 2008
Os Coordenadores do Conselho Pedagógico

1 comentário:

Primo de Amarante disse...

Um País, onde o Primeiro Ministro é engenheiro por fax, uma Ministra da Educação só poderia ir a um país da América Latina, onde geralmente nada se aplica, copiar umas fichas desactualizadas de avaliação dos professores.

Ora vejam e comparem:

Marco para la Buena Enseñanza
CPEIP
Centro de Perfeccionamiento, Experimentación
e Investigaciones Pedagógicas.
Ministerio de Educación
República de Chile
http://aep.mineduc.cl/images/pdf/2007/Marcoparalabuenaense%C3%B1anza.pdf

Será que pagou os direitos de autor?!...