100 mil na rua, mas para a ministra isso não é relevante.
Tem sido esta a postura do governo e deste ministério da “educação” desde que assumiu a pasta com o mesmo nome.
Num total desrespeito pela classe que está nas escolas – uns mais novos e ainda com um grande caminho a fazer, outros com muitos anos de carreira e já próximos da aposentação – a ministra da educação e os seus secretários de estado cortam a direito, lançando catadupas de diplomas, despachos, normativos sobre os/as professores/as, em que o traço comum é o derrubar o que está feito, o que vem de trás, como se tudo o que se fez não fosse nada ou pior, fosse para deitar borda fora, porque não presta. A revolta generalizada cresceu e os professores não se deixaram intimidar com as visitas da PSP às escolas para saber quantos iam à manif. Foram 100 mil, isto é, cerca de 70% da classe docente!^
Daí que fosse tão bem dado o nome à mobilização do professorado nacional: Marcha da Indignação. Uma indignação que se mostrou naquele sábado em Lisboa, com a marca da diversidade, da unidade, da imaginação, da criatividade e da determinação em não baixar os braços.
Silenciosa e sozinha na Curia, a ministra ficou indiferente. Como só pode ficar indiferente quem perdeu o sentido da realidade; quem, governando fortalecido com uma maioria absoluta, perdeu o sentido da democracia e do diálogo; quem não estando nas escolas, desconhece o profundo mal-estar de quem aí trabalha. Uma ministra que está cada vez mais identificada com Sócrates, aquele que todos os dias aparece, sozinho, num palanque, falando dum mundo virtual. Para quem tanto fala dum governo com sensibilidade social, estamos conversados!
Neste jogo de forças que tem oposto o governo/ministério e o professorado algumas figuras têm vindo a terreiro. Umas pelas piores razões – o ministro Augusto Santos Silva, Albino Almeida da CONFAP desejoso de prestar vassalagem a quem lhe financia os seus interesses (150 mil euros ano!); Emídio Rangel para quem os professores manifestantes não passam de pseudo-professores, hooligans, comunistas, gente que trabalha pouco e ensina menos… Do outro lado, gente de todos os partidos, sem partido, membros do PS, Ana Benavente, o cardeal patriarca de Lisboa para quem “os professores e educadores deste país são um grupo decisivo para o futuro do país, por ventura mais decisivo que os políticos, que os técnicos e os financeiros”.
Estamos no pós-Marcha da Indignação com outra força, outra alegria que descobrimos, alguns pela primeira vez. Andamos de luto nas escolas, mas falamos alto do que nos vai na alma, já sem medo, porque descobrimos que afinal somos muitos que não toleramos esta avaliação persecutória e esquizofrénica; que sabemos que temos de ganhar novos aliados – os pais e encarregados de educação, os alunos – todos os que estão preocupados com o futuro do ensino público deste país, em risco com este tsunami legislativo que tudo arrasa.
Percebendo que perdeu o pé, o ministério desdobra-se em declarações contraditórias, tentando adocicar uma política que deseja minar os fundamentos da escola pública. Mas os professores descobriram que conseguem estar unidos no essencial e que são uma força poderosa, alicerce e fundamento da Escola Pública, um dos esteios da democracia. No passado dia 8 de Março, na rua, 100 mil professores e professoras fizeram a mais inequívoca moção de censura a esta política educativa.
Março 2008
Almerinda Bento (publicado no Comércio do Seixal)
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário